Este estudo objetiva analisar o tema do duplo, sob uma perspectiva platônica, em "Ripuária", conto publicado no volume Tutaméia (Terceiras Estórias) (1967), de João Guimarães Rosa (1908-1967). A análise procurará evidenciar, no citado texto, a construção do amor a partir da ideia de androginia, presente em O banquete, bem como a ideia de prisão versus desejo de libertação, presente no mito da caverna, relatado no livro VII de A república.
Este estudo objetiva demonstrar que o conto “A benfazeja”, de Guimarães Rosa, é
uma retomada do mito das “Erínias/Eumênides”, tal como este aparece registrado na trilogia
Oréstia, de Ésquilo. Adaptando o mito de acordo com a realidade do sertão, o escritor mineiro,
ao figurar sua protagonista (Mula-Marmela), dá vida a uma personagem que mantém na
essência as características peculiares das antigas titulares do panteão helênico.
Tutaméia (Terceiras Estórias) é uma obra dotada de várias “intenções ocultas”, conforme Paulo Rónai. Os elementos que a tornam labiríntica são múltiplos: dois índices, dois títulos, ordenação alfabética dos contos, anagramas, epígrafes, glossário, quatro prefácios, ilustrações de capa e ilustrações ao final de cada estória. O presente estudo objetiva detalhar os pormenores de sua estrutura peculiar e apresentar algumas considerações acerca dos quatro prefácios que a compõem.
O presente trabalho objetiva apresentar uma leitura de “Palhaço da boca verde”, do livro Tutaméia (Terceiras Estórias), sob a perspectiva do duplo. São três os artistas que fazem parte do enredo, compondo a complexa situação de um triângulo amoroso: Mema Verguedo, X. Ruysconcellos e Ona Pomona. Tais personagens – cada qual à sua maneira – são seres cindidos. No que se refere à X. Ruysconcellos, sob a pele do palhaço Ritripas, este procura fugir da realidade. No que diz respeito às figuras femininas, uma atua como o alter ego da outra. Embora X. Ruysconcellos demonstre inicial interesse por Ona Pomona, ao final da narrativa, ele descobre ser Mema Verguedo a sua metade faltante. Neste momento, cada um dos amantes reencontra a sua própria androginia.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Tutaméia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa, é uma obra que desestrutura o leitor. Os elementos que a tornam labiríntica são múltiplos: dois índices, dois títulos, ordenação alfabética dos contos, anagramas, epígrafes, glossário, quatro prefácios, ilustrações de capa e ilustrações ao final de cada estória. A tese que se propõe defender nesta pesquisa dá conta de decifrar parte de um de seus enigmas. Curiosamente, o livro possui quatro prefácios distribuídos de entremeio aos contos. A nosso ver, desempenhando função específica planejada pelo ficcionista, tais textos estariam a serviço de “prefaciar” os correspondentes contos que antecipam. Através da análise dos onze contos que seguem o terceiro prefácio, “Nós, os temulentos”, o presente estudo objetiva evidenciar esta intenção do escritor. Em “Nós, os temulentos”, Guimarães Rosa explora, pela via do humor, a visão “diplópica” de “Chico, o herói”, propiciada pela embriaguez. Por meio da imagem deste temulento e de seus dualismos, o autor parece oferecer a chave temática do grupo de estórias que segue o referido prefácio. Acreditamos que a grande constante ou a coluna dorsal de tais contos é o tema do duplo. O primeiro passo a ser dado para provar esta tese inicia já na introdução do trabalho. Nesta parte, são detalhados os pormenores da peculiar estrutura de Tutaméia (Terceiras Estórias) e tecidas algumas considerações acerca dos quatro prefácios que a compõem. Em seguida, conforme antecipa o título do primeiro capítulo, é realizado “um périplo pelo território do duplo”, assunto de abrangência bastante considerável. Por último, são realizadas as análises dos contos “O outro ou o outro”, “Orientação”, “Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”, “Palhaço da boca verde”, “Presepe”, “Quadrinho de estória”, “Rebimba, o bom”, “Retrato de cavalo”, “Ripuária”, “Se eu seria personagem” e “Sinhá secada”.
Centro de Letras e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Letras
A presente dissertação tem por objetivo demonstrar a presença de elementos marcadamente trágicos no conto "A hora e vez de Augusto Matraga", de Guimarães Rosa. Este estudo apresenta uma estrutura bipartida. Num primeiro momento, são desenvolvidos os seguintes tópicos teóricos: "A origem da tragédia grega" e "Formas de abordagem da tragédia grega". No primeiro tópico, a tragédia é tratada em sua gênese, ou seja, desde os primórdios de sua manifestação até atingir a sua forma acabada de espetáculo oficialmente instituído, patrocinado e organizado pelo antigo estado grego. No segundo tópico, são apresentadas duas abordagens divergentes acerca da tragédia grega. A primeira delas refere-se à leitura inicialmente desenvolvida por Aristóteles, em sua obra intitulada Poética, e amplamente aprofundada por estudiosos posteriores. A segunda diz respeito à análise realizada por Nietzsche, vinte e dois séculos depois, em seu livro O nascimento da tragédia. Embora haja divergência na maneira como interpretam a tragédia clássica, a análise do conto está baseada em apontamentos de ambas reflexões. Num segundo momento, em virtude da estrutura ternária de "A hora e vez de Augusto Matraga", optou-se pela divisão da análise em três partes. Na primeira parte, revela-se a presença do trágico através dos seguintes elementos: hybris (desmedida), harmatía (erro trágico) e peripetéia (inversão da situação do personagem). Na segunda parte, o trágico manifesta-se através da "contradição inconciliável" e do dionisismo. Na última parte, constatam-se os vínculos do conto com a tragédia grega nas situações em que se apresentam os seguintes elementos: destino, anagnórisis (reconhecimento), sparagmós (catástrofe) e dionisismo.