O método clínico, como acentua Manoel T. Berlinck, é resultado de uma certa posição de passividade; daí a denominação de “atenção flutuante” na escuta psicanalítica proposta por Freud. Trata-se do preenchimento de um vazio que é ocupado por uma representação, ou seja, por algo cuja existência é ausente, ainda estando presente. A observação envolve a tríade RSI (Real/Simbólico/Imaginário) de J. Lacan e inclui o sem sentido, o estranho, o Umheimlich freudiano. Partimos dos conceitos de Natureza (Sertão/Sertanejo) e Observação para a interpretação das representações dos jagunços inscritas nas narrativas e nos neologismos pesquisados amorosamente por Rosa. O objetivo é refletir sobre uma ética inscrita na sustentação do desejo, a despeito das surpresas da contingência e dos labirintos que a vida nos impõe percorrer.
O trabalho propõe uma interpretação sobre o conto “Páramo”, do escritor brasileiro João
Guimarães Rosa. Ele foi publicado post-mortem, sendo a primeira edição em 1969. Nele,
anos após a experiência vivida na Alemanha, o autor conduzirá o leitor ao coração da
recordação traumática: um encontro com a morte. Sim, um “encontro com a morte. Não a
morte final – equestre, ceifeira, ossosa, tão atardalhadora, mas a outra, aquela”. A morte
aqui veste o semblante do sofrimento psíquico (pathos) intensamente vivenciado no
soroche, o mal das alturas, em função do ar rarefeito naquelas altitudes, mas também na
depressão profunda experimentada a partir daquele período de autoritarismo vivo (ethos)
da Alemanha em guerra, expresso em números genocidas. A abordagem propõe um
entrelaçamento entre história, cultura política e método clínico.