Analisa-se em que medida a autorreferencialidade e o lúdico, recursos consagrados de modo particular pelas vanguardas modernas, são articulados na produção de Oswald de Andrade, e como os mesmos se constituem elementos a ser redinamizados posteriormente na literatura brasileira, como nos casos de Guimarães Rosa e de Clarice Lispector.
Este texto propõe que no coração da literatura brasileira encontra-se o pulsar de uma escrita auditiva, elaborada por autores que “escrevem de ouvido”. O objetivo é conceituar o termo “escrita de ouvido”, e descrever a forma que assume na prosa de ficção, em especial no romance. Machado de Assis, Clarice Lispector e Guimarães Rosa são os escritores centrais dessa pesquisa, que também se aplica a outros escritores-chave como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Graciliano Ramos. Pensa-se pois o ouvido como um terceiro termo para além da dicotomia entre a fala e a escrita, o romance, como um espaço de escuta, e a autoria, como um lugar de recepção mais do que de producão. Busca-se assim contribuir para uma poética da ressonância e uma história aural da literatura escrita em português com acentos multilíngues.
Este trabalho tem em vista mostrar como, além das representações míticas, os três paradigmas amorosos do romance de Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas, têm também fundamentos empíricos e sociológicos. Por outro lado, ele pretende revelar como tais paradigmas são muito mais estruturais e objetivos do que produtos só da fantasia do autor, por isso, estão muito presentes e difundidos na literatura brasileira.