Na obra do autor mineiro João Guimarães Rosa, o significante é elevado ao máximo de seu uso. Há
uma espécie de magia, canto e encanto na sua escritura. O que propomos, neste artigo, é um estudo do conto “A menina de lá”, que integra a obra Primeiras Estórias (1962), com a intenção de mostrar a predominância do caráter icônico e poético na linguagem do conto. Para tanto, nos valemos do conceito de linguagem icônica de Charles Sanders Peirce e do de função poética do lingüista russo Roman Jakobson, além das idéias de Vilém Flusser sobre as chamadas línguas santas.
Este artigo propõe-se a discorrer sobre as relações entre as atividades de médico e escritor exercidas por Guimarães Rosa de modo a sublinhar o processo de cura pela palavra. Palavra que, quando na forma de canto, assume uma potencialidade apotropaica. Neste sentido, nos debruçaremos sobre um episódio de Campo geral, mais pre- cisamente sobre o efeito de cura que a viola e cantoria de Aristeu operam no estado de espírito de Miguilim. Por compor Corpo de baile, interessa-nos, na investigação deste conto, uma apreciação do pensamento de Platão sobre os estados da alma e a alegria.
A partir das ideias de Oswald de Andrade sobre antropofagia (Manifesto Antropófago, 1928), que rivalizando com o bom selvagem de Rousseau revitaliza a noção do canibal insubmisso, irreverente e zombeteiro, se inaugura na tradição brasileira artística e acadêmica a noção de devoração do outro como metáfora epistemológica da tradução entre culturas. Tradução antropofágica ou antropofagia tradutória como encontro, experiência de alteridade, mas também como devoração criativa – algumas vezes debochada – mas, sobretudo, como transculturação. Experimentos lingüísticos, literários e ensaios de cunho teórico fazem eco a estas ideias. Este artigo debruça-se sobre o pensamento do escritor João Guimarães Rosa, do filósofo e ensaísta tcheco Vilém Flusser e do poeta e tradutor Haroldo de Campos, sublinhando as suas intercessões e também as suas singularidades, a respeito da linguagem e dos processos tradutores.
Em 1982, o artista plástico Arlindo Daibert elabora uma série de 20 xilogravuras inspiradas no romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. As tensões entre escritura e oralidade, bem e mal, masculino e feminino, tão latentes no romance roseano, são ressignificadas nas gravuras de Daibert. Em Maria Mutema, xilo da série que se refere ao episódio em que a personagem Maria Mutema mata o marido e o padre pelo ouvido (o primeiro com chumbo e o segundo com mentiras no confessionário) a personagem é representada por um monstro híbrido. As imagens de Daibert não tem caráter meramente ilustrativo, mas dialogam com a obra roseana fazendo ecoar outros níveis de leitura e interpretação do texto escrito.