A literatura é uma forma de expressão da realidade e do cotidiano, que são tecidos por diversos fios, sendo um deles o da violência. Este trabalho tem como objetivo analisar a representação da violência por meio da escrita e por meio audiovisual do conto “O duelo”, publicado na obra Sagarana, de Guimarães Rosa, e na adaptação cinematográfica homônima, dirigida por Paulo Thiago. Por meio de um estudo de cunho bibliográfico e de método comparatista, foram analisadas as ocorrências de atos violentos em ambas as materialidades à luz de pesquisadores como Alves (2003), Brito (2006) e Hutcheon e O’Flynn (2013). É possível perceber que essa adaptação gerou modificações para que o sentido da obra fosse mantido, mas adicionando alguns elementos, como a inserção de personagens de outros livros.
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas
O objetivo principal deste trabalho de pesquisa é o estudo comparativo entre a obra de João Guimarães Rosa, focalizando Sagarana (1946), na qual está contida a narrativa ―Duelo‖, e a produção fílmica de Paulo Thiago, Sagarana, o duelo (1974), com o intuito de mostrar as ―transposições‖, no sentido usado por STAM (2008), que o cineasta realiza em seu filme, de elementos ficcionais e compositivos constantes nas obras rosianas. Efetuamos a análise da estruturação de tais textos em seus diferentes aspectos; o estudo das relações que podem ser estabelecidas entre a obra e o filme; a caracterização dos personagens no filme em relação à obra da qual foram retirados, conforme as múltiplas relações que se estabelecem nas narrativas. Buscamos mostrar que há elementos comuns e diferenciados entre o conto e o filme que nele se baseou livremente. Que essas diferenças dizem respeito a todos os aspectos de ambas as obras e que a adaptação livre sugere ser um dos melhores caminhos para os cineastas fazerem de seus filmes obras com validade estética independente do texto que as motivaram. E que, no caso de Sagarana, o duelo, as diversas transposições encobrem sentidos ideológicos que também são destacados na pesquisa. Valemo-nos de teóricos da narrativa como Claude Brémond (1971; 1972) e Gerard Genette (1979), e de estudiosos do cinema como Marcel Martin (2007), Jacques Aumont (1995), Robert Stam (2008), Linda Seger (2007) e Linda Hutcheon (2011). Partimos também de alguns pressupostos: a ficcionalidade como valor estético; a consciência construtiva cultivada rigorosamente por Guimarães Rosa e perceptível nas opções feitas por Paulo Thiago; a ficção como mediadora de verdades ou realidades mentais e sociais construídas historicamente. Apoiamo-nos também em algumas suposições sugeridas pela crítica, dentre as quais as elaboradas por Antonio Candido (1964).