Este trabalho faz parte das investigações acerca das relações entre literatura brasileira e história, objeto de dois projetos de pesquisa em curso na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O artigo pretende estabelecer um percurso de leitura que envolve quatro autores brasileiros de épocas distintas, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Raduan Nassar e Bernardo Carvalho. A ficção desses autores provoca a emergência de um pensamento crítico-literário renovado. Defendemos a
ideia de que há um “mundo crítico do texto” que dialoga e desconstrói o “texto crítico do mundo” afetado pelo contexto com/contra o qual se relaciona. Deste modo, interrogamos na literatura de que forma se estabelecem o pensamento histórico, social, político e filosófico, dentre outros entre-lugares discursivos.
Este artigo estuda a estrutura narrativa do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, a partir da concepção de escritura (écriture) pensada por Jacques Derrida, bem como das considerações do filósofo sobre a instituição literária. Nossa hipótese de trabalho se concentra na ideia de que no Grande sertão: veredas o fenômeno da escritura é uma questão central. Partiremos de uma passagem da obra, que trata de uma carta enviada pela personagem Nhorinhá e que somente chega a seu destinatário, Riobaldo, quando já e tarde demais, para discutir a questão do evento e do acontecimento, segundo uma pergunta de Riobaldo sobre os efeitos da carta, caso ela tivesse chegado a tempo. A isso, chamaremos de “metáfora escritural”, que regula um pensamento sobre a escrita, em geral, e sobre a escritura literária, em particular. Com isso, Rosa nos adianta questões como traço, evento, devir, além de problematizar o “como se” da literatura, elementos organizadores de um saber próprio do literário. Finalmente, propomos a abordagem destas provocações de Guimarães Rosa em seu único romance como alguns dos modos de entrada na obra.
Faculdade de Letras, Departamento de Ciência da Literatura
Esta tese defende a escritura como a questão central que estrutura a economia interna do Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. A problemática da escritura, da forma como Guimarães Rosa a expõe, vai regular a narrativa da obra, trazendo ao debate questões como a interpretação, a crítica, o leitor, o autor, assinatura e contra-assinatura. Este trabalho enfatiza a contribuição da desconstrução na compreensão dos indecidíveis que rondam o Grande sertão: veredas, mostrando que, nas bases de uma poética da distensão, o texto rompe com as dicotomias metafísicas ao rejeitar modelos de verdade acabados.