Esse artigo realiza uma leitura da representação do espelho nos contos
homônimos de Machado de Assis, Guimarães Rosa e José J. Veiga, a fim de evidenciar
a dicotomia entre instrumento do autoconhecimento e de afirmação da vaidade. Dessa
forma, no conto de Machado, o autoconhecimento conclui o caráter dominante da alma
exterior. Rosa desenvolve o resgate do ser escondido atrás das máscaras da aparência, a
definição da identidade pela alma interior. J. J. Veiga, por sua vez, desloca o foco
narrativo para o objeto, mostrando-o capaz de revelar a alma interior. Logo, considerase
que o espelho expõe o desdobramento do sujeito entre corpo e consciência de si.
O estudo que apresento, nessa breve escrita, considera o poder da imaginação presente no ser ficcional que o leva a superar limites e infortúnios presentes em sua vivência. Para Mario Vargas Llosa (2012), a literatura leva o leitor a viver o impossível por meio de suas personas, seja pela força descomunal ou pela capacidade de construir espaços em que a coragem e a alegria apontam sempre para superação da adversidade. Apresento essa problemática falando de dois meninos presentes na ficção: o narrador-protagonista de “Os cavalinhos de Platiplanto” (José J. Veiga, 2009) e Miguilim de “Campo geral” (João Guimarães Rosa, 2006). As duas personagens são desenhadas com grande sensibilidade e poesia pelos autores, em comum eles alcançam a superação da realidade árida por meio dos sonhos. Também contribuem teoricamente com essa ideia Gilbert Durand (2014) e Jacqueline Held (1980).