This article analyses two examples of Brazilian literature, João Guimarães
Rosa’s Grande sertão: veredas and João Antônio’s “Abraçado ao meu rancor”. Whereas
the first narrates the sertão, “Abraçado ao meu rancor” is entirely dedicated to the metropolis of São Paulo. This article aims to display a series of resemblances between the
two pieces that tend to disrupt an old but still active axiom of Brazilian social thought: the
dichotomy between the country (sertão) and the city. The analysis begins by building up
the distinction between the sertão and the city as it appears in most Brazilian literature
and literary criticism. This opposition leads to a series of other constitutive polarities,
such as development/underdevelopment, nature/culture, faith/reason. Through a reading of Rosa’s novel and Antônio’s story, this article will then juxtapose the sertão and
the city showing how oppositions that have sustained so much of the Brazilian social
thought are categories that need to be deconstructed.
FFLCH / Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
O presente trabalho analisa a construção da personagem malandra em dois contos da literatura brasileira: A volta do marido pródigo (1946) de Guimarães Rosa e Paulinho Perna Torta (1965) de João Antônio. O foco da análise incide na representação, respectivamente, culturalista e histórica do malandro pelos seus protagonistas. A construção da personagem malandra nesses contos corresponde à redução estrutural dessa figura na sociedade, seja como um tipo cultural, que, ideologicamente, representa o tipo simpático e cordial do brasileiro, ou como figura histórica, que se transformou na figura marginal e violenta do narcotraficante.
Haroldo Pedro Conti (1925-1976?) nasceu na cidade de Chacabuco, na província de Buenos Aires. Colaborador da revista Crisis, professor de latim, roteirista e premiado em 1975 pela revista Casa de las Américas, Conti teve sua produção literária interrompida quando foi sequestrado no começo da ditadura militar argentina. Ainda hoje figura na lista de desaparecidos políticos. Devido a este histórico, é comum a fortuna crítica realizar uma leitura da obra de Conti enfatizando mais o viés político e menos o estético. A este desequilíbrio soma-se outro: Conti ainda é um escritor pouco estudado. À guisa de exemplo, o volume de contos completos de Haroldo Conti foi lançado pela primeira vez apenas em 1994, ou seja, depois de quase vinte anos do término da ditadura militar argentina. No Brasil, Conti é ainda mais desconhecido: somente um romance - Mascaró, El cazador americano - foi traduzido ao português. Na tentativa de expandir as leituras da obra de Haroldo Conti, o objetivo desta dissertação é analisar comparativamente os contos do escritor argentino com contos brasileiros. Para tanto, privilegiou-se, além da cronologia - contos brasileiros pertencentes ao mesmo período em que Conti escreveu sua obra contística, entre os anos de 1960 e 1970 -, o aspecto geral da trama, comum a todas as narrativas analisadas: o amor dos protagonistas ou narradores por outrem - um pai, um tio ou um irmão - e o desejo de, na recordação, criar um vínculo com este outro e realizar a constituição de si enquanto sujeito. As narrativas brasileiras que compuseram a análise - "A terceira margem do rio" (Guimarães Rosa), "As voltas do filho pródigo" (Autran Dourado) e "Frio" (João Antônio) - permitiram uma maior compreensão daquilo que move as personagens contianas e como estas constroem o "esforço por existir". Para realizar esta "descoberta de si", elas precisam aprender a enxergar, a partir do outro, a presença de um mundo antes não sensível aos olhos. Através das "pequenas percepções" que se instalam gradualmente nestas personagens, elas tentam recuperar não apenas o espaço-tempo que ficou para trás, senão o encontro com o outro: um encontro que não se deu em vida e que tem, através da memória, a última chance de ocorrência.