Em Tutameia – Terceiras estórias (1967), o título conduz à questão do valor, pois
tutameia quer dizer também “quase nada”. Alguns críticos apontaram relações entre as estórias
ajudando a compor o todo do livro como a representação de um cosmo mágico-simbólico. Tal
concentração formal ou variedades de pistas a serem consideradas na interpretação pode ser
identificada desde Primeiras estórias que, junto às Terceiras estórias, marcam certa mudança em
relação às primeiras obras de Guimarães Rosa. A centralidade, devida aos títulos, da forma
narrativa “estória” funciona como pista principal no desenvolvimento de nossa pesquisa.
Pensaremos as implicações da forma narrativa “estória”, que privilegia a invenção, dentro da
ordenação geral dessa obra auto-avaliativa.
Com o presente artigo buscamos mostrar como se dá a construção da cena do funeral do personagem Cara-de-Bronze no filme Sagarana: o duelo (1973), de Paulo Thiago, inspirado no conto Duelo que integra a obra Sagarana (1946) de Guimarães Rosa. A adaptação livre do cineasta dialoga com outros textos do escritor. Nosso intuito é mostrar de que maneira o cineasta transcende o documental, conferindo poeticidade à representação da travessia na cena destacada. Para a análise da mesma, focalizamos dois vocábulos-chave que aparecem em ambas as produções, viagem e travessia, explicando-os a partir dos elementos disseminados pela obra do próprio Guimarães Rosa e de estudiosos de sua literatura como Manuel Cavalcanti Proença, Benedito Nunes, Dante Moreira Leite e Antonio Candido.