A literatura, enquanto bem simbólico constitui-se um dos graus mais elevados de expressão cultural de um povo. A atividade literária de um povo expressa-se por meio do seu legado e fornece farto e fértil material para um vasto sistema de trocas e releituras, instigando novos e diversificados olhares. No estudo que vimos realizando percebemos que um dos motivos recorrentes nas narrativas breves de Guimarães Rosa e Manuel Bandeira é a leviandade amorosa. Constatamos que as narrativas Desenredo de Guimarães Rosa e Tragédia Brasileira de Manuel Bandeira, selecionadas para este trabalho, além de serem a expressão criativa de autores brasileiros representantes do estilo Modernista em suas diferentes fases, se comunicam esteticamente com um dos eixos temáticos que estruturam a clássica obra Ilíada, de Homero. Instiga-nos perceber em que medida a memóriadiscursiva que permeia a (re)leitura que as produções fazem do tema, se alicerça em uma confluência entre o clássico e o contemporâneo.
Neste trabalho, empreendemos uma interpretação do romance Campo geral (1956) de Guimarães Rosa, inicialmente publicado na obra Corpo de baile (1956) que reunia uma coletânea de contos, novelas e romance. Posteriormente dividido em outras obras independentes pelo próprio autor, a exemplo, Manuelzão e Miguilim (2001), em que o romance está inserido. Pretendemos discutir, nesta leitura crítica sobre este romance, a formação de experiência na arte de contar, o cruzamento de elementos culto e popular, a religiosidade, a linguagem paratática, e a formação de palavras, em que verificaremos o emprego de palavras valise. No tocante a este item, balizamo-nos em estudos de Gilles Deleuze (2003). Sobre a experiência literária, remeteremos aos estudos de Maurice Blanchot (2003) e Walter Benjamin (2012).