Pautando-se no discurso efetivado pelo narrador-personagem, a presente análise de “O outro ou o outro” - conto presente em Tutaméia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa - procura evidenciar o sentimento de alteridade por ele experimentado quando, em companhia de seu tio Dô, delegado, depara-se com um acampamento cigano, com especial destaque para a figura de Prebixim. Tanto tio Dô quanto Prebixim marcam a sua natureza dúplice. Ambos os “outros” formam o “mesmo”.
O presente trabalho se propõe a apresentar uma visão geral de Tutameia, a partir do estudo aprofundado de três de suas estórias. Começando por uma breve introdução que aponta algumas características particulares deste livro dentro da obra rosiana, o trabalho devota-se a seguir à interpretação das três estórias selecionadas. A primeira é “Antiperipleia”, estória de abertura do livro, avaliada como realização autônoma e também em sua contribuição estratégica à arquitetura do conjunto. A segunda é “O outro ou o outro”, uma das artérias mestras do livro, central para a compreensão do magistério rosiano da liberdade. A terceira é “Barra da Vaca”, que se presta a uma reflexão sobre o homem no mundo, aqui concebido como uma metáfora do poeta e sua missão criadora. Tendo em vista o princípio orgânico do todo e das partes, cada uma destas estórias contém o todo punctualmente concentrado, de modo que, lidas e transvistas, oferecem pistas reveladoras para a percepção integrada do conjunto.
Este ensaio objetiva apreender a maneira de ser dúplice do narrador presente em "O outro ou o outro" (Tutaméia: terceiras estórias), de João Guimarães Rosa: ser distanciado do narrado e, concomitantemente, participativo no mesmo.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Tutaméia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa, é uma obra que desestrutura o leitor. Os elementos que a tornam labiríntica são múltiplos: dois índices, dois títulos, ordenação alfabética dos contos, anagramas, epígrafes, glossário, quatro prefácios, ilustrações de capa e ilustrações ao final de cada estória. A tese que se propõe defender nesta pesquisa dá conta de decifrar parte de um de seus enigmas. Curiosamente, o livro possui quatro prefácios distribuídos de entremeio aos contos. A nosso ver, desempenhando função específica planejada pelo ficcionista, tais textos estariam a serviço de “prefaciar” os correspondentes contos que antecipam. Através da análise dos onze contos que seguem o terceiro prefácio, “Nós, os temulentos”, o presente estudo objetiva evidenciar esta intenção do escritor. Em “Nós, os temulentos”, Guimarães Rosa explora, pela via do humor, a visão “diplópica” de “Chico, o herói”, propiciada pela embriaguez. Por meio da imagem deste temulento e de seus dualismos, o autor parece oferecer a chave temática do grupo de estórias que segue o referido prefácio. Acreditamos que a grande constante ou a coluna dorsal de tais contos é o tema do duplo. O primeiro passo a ser dado para provar esta tese inicia já na introdução do trabalho. Nesta parte, são detalhados os pormenores da peculiar estrutura de Tutaméia (Terceiras Estórias) e tecidas algumas considerações acerca dos quatro prefácios que a compõem. Em seguida, conforme antecipa o título do primeiro capítulo, é realizado “um périplo pelo território do duplo”, assunto de abrangência bastante considerável. Por último, são realizadas as análises dos contos “O outro ou o outro”, “Orientação”, “Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”, “Palhaço da boca verde”, “Presepe”, “Quadrinho de estória”, “Rebimba, o bom”, “Retrato de cavalo”, “Ripuária”, “Se eu seria personagem” e “Sinhá secada”.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
A presente tese analisou a representação dos personagens estrangeiros na obra de João Guimarães Rosa. Observou os elementos narrativos que os caracterizam, configurados pelos processos de troca e assimilação cultural. “O estrangeiro em conflito com o sertanejo” verifica os casos dos estrangeiros em situação de embate com o nativo, em “Traços biográficos de Lalino Salãthiel ou A volta do marido pródigo”, “Faraó e a água do rio”, “O outro ou o outro” e “Zingarêsca”. “Trocas afetivas” trata do romance rosiano, Grande sertão: veredas. Nele, verifica como os estrangeiros participam da formação social do narrador protagonista. “Traduzindo o sertanejo” revela como a tentativa de compreensão do nativo, em “O recado do morro”, torna-se fator indispensável para a solução do enigma que o próprio recado carrega. “Nostalgia do estrangeiro” examina os contos “O cavalo que bebia cerveja”, “Um moço muito branco” e “Orientação”, a fim de observar a passagem do estranhamento à saudade que marca a enunciação. Por fim, confirmou a tese de que as personagens estrangeiras são aceitas pelo sertanejo de modo cordial. Por isso, desempenham papel ativo na composição deste sertão mundo de Guimarães Rosa. Seja como elemento que reforça as características sertanejas através do contraste ou pelas trocas materiais e imateriais que realiza com o homem do sertão.
Este trabalho tem como objetivo investigar a figuração do 'estrangeiro' e suas relações com o habitante nativo nos contos de João Guimarães Rosa intitulados: "O cavalo que bebia cerveja", "Orientação", "Faraó e a água do rio", "O outro ou o outro" e "Zingaresca". Nossa empreitada centraliza-se no estudo das tensões vinculadas à prática da hospitalidade e/ou hostilidade exercida pelos personagens nativos, os 'anfitriões', sobre os personagens estrangeiros, os 'hóspedes' em questão. Investigar a possibilidade de existência de uma hospitalidade no sertão rosiano, e a complexidade de sentimentos e comportamentos envolvidos no contato entre nativo e sertanejo, também foram objetivos que perseguimos. Ainda nos detivemos no exame da assimilação do elemento estrangeiro pelo nativo, processo que gera e culmina em um enriquecimento pessoal proporcionado pelo convívio com as diferenças. Nossas percepções encontraram apoio em reflexões empreendidas por teóricos como Jacques Derrida (sobre a questão da hospitalidade e do estrangeiro), Edward Said (principalmente no que se refere à construção de imagens arbitrárias que costumam mediar nossas relações com a alteridade) e Hillis Miller (no que se refere à profunda relação entre hospitalidade e hostilidade).
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma leitura de "Zingarêsca", último conto de Tutaméia (Terceiras Estórias) (1967), de Guimarães Rosa (1908-1967), buscando evidenciar as características do grotesco que tornam o mundo do personagem Zepaz um mundo estranhado que já não permite uma orientação - conforme teoria discutida por Wolfgang Kayser. Pretende, ainda, mostrar, amparado pela teoria de Mikhail Bakhtin sobre carnavalização, que o grotesco se faz presente na eliminação de censuras ocasionada pela festa carnavalesca dos zíngaros, originando, assim, a dissolução do que é considerado ordenado, a desconstrução do convencional. Para atingir os objetivos pretendidos, este estudo divide-se em duas partes. Em um primeiro momento, em virtude dos diálogos entre os textos da obra, há uma análise geral de Tutaméia. A seguir, "Faraó e a água do rio", "O outro ou o outro", "Intruge-se" e "Vida ensinada" são focalizados, uma vez que "Zingarêsca" retoma personagens presentes nos citados contos. Na segunda parte, os caminhos percorridos no trabalho, finalmente, cruzam-se. "Zingarêsca" é, primeiramente, analisada visando o estabelecimento de oposições entre grupos de personagens. Estabelecidas as oposições, analisa-se, a seguir, a configuração rosiana do grotesco. Configuração esta que faz de "Zingarêsca" um conto no qual ocorre o encontro de opostos.
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