Tresaventura é uma narrativa que cuida de lembranças, na vida real ou na imaginária. As recorrentes imagens do conto nos levam ao devaneio poético do autor-modelo que instiga o leitor-modelo a uma interpretação do mundo infantil, artístico, mágico, o mundo ideal pensado, ao devaneio poético do leitor.
Análise estilístico-semtótica do léxico de Tresaventura de Guimarães Rosa, no intuito de demonstrar que o vocabulário ativado no texto, a partir das escolhas do autor, produz a iconicidade. Esta, por sua vez, orienta o leitor na construção de imagens mentais que podem representar o mundo narrado ou induzir o intérprete a inferir ou construir implicaturas. A semiótica de Peirce, funcionalismo sistêmico de Halliday e a semântica componencial de Pottier são as bases teóricas que fundamentam a análise proposta. A compreensão do texto literário é demonstrada como um rico cxercício lingüístico-textual, uma vez que explora toda a potencialidade do sistema posto em jogo: a língua portuguesa. A trajetória da personagem Dja Iaí permite ao leitor discutir a estruturação língüística em perspectiva pancrônica e deduzir hipóteses comunicativas que conduzem à construção de mundos semióticos distintos, em função da perspectiva privilegiada tanto pelo autor, quanto pelo intérprete, das quais emergem os campos semânticos que emolduram o tema.
Na década de 1960, a representação de crianças na obra literária de João Guimarães Rosa sofreu modificação e nela, além de tratar dos meninos, o autor passou a escrever estórias em que protagonistas são as meninas. Esse destaque da mulher quando criança pode esboçar um desenho do novo papel social assumido pelo feminino na década seguinte.
Este é um estudo sobre as figurações literárias dos infantes na obra de João Guimarães Rosa. Partindo do pressuposto de que estas personagens apresentam uma forma outra de ser que se articula, em mais de um aspecto, ao universo rosiano e à própria poética do autor, elegeram-se como eixo analítico quatro protagonistas de cinco contos rosianos: Dja/Iaí, de "Tresaventura"; Nhinhinha, de "A Menina de Lá"; Brejeirinha, de "Partida do Audaz Navegante" e o Menino, de "As margens da alegria" e "Os cimos". O estudo parte da contextualização histórica de sentimento da infância, segundo Philippe Ariès, para sondar perspectivas de carência e potência na figuração literária dos infantes, e convoca conceitos da psicanálise e filosofia a respeito da forma de existência infantil para dar lastro a sua representação pela literatura rosiana. De um olhar vertical para os contos e seus protagonistas e um olhar transversal que os atravessa comparativamente, emergiram os temas e imagens que compõem essa forma de existência bem como suas afinidades e ressonâncias com alguns dos grandes temas rosianos: a coincidência dos opostos e o princípio da reversibilidade/mobilidade, que desafiam a lógica linear e o pensamento cartesiano; a relação com a linguagem enquanto elemento móvel, plástico, metafísico porque genesíaco em sua capacidade de reinaugurar o mundo; a face lúdica e criativa da existência, a Graça em suas muitas acepções. Falta e potência tensionam o campo da infância e também constituem a vivência infante em sua articulação com as condições do sertão rosiano, sendo mais uma face do tema proposto. Explora-se a proximidade dos infantes à Origem, conceito delineado a partir de perspectivas sociológicas, psicanalíticas e antropológicas, que os torna "originários" e "originais", imprimindo-lhes uma anterioridade de ser que se faz plena em si mesma e configura sua relação com o mundo e a linguagem na contramão do pensamento hegemônico, em lógica aparentemente "desarrazoada", antes participativa do que analítica, elucidando também seu parentesco com os primitivos, caboclos e sertanejos. No último capítulo, são convocados personagens adultos que comungam de aspectos dessa existência infante, corroborando a ideia de que ela, mesmo radicada na fase inicial da biografia humana, permeia nosso vir a ser.
Atenção! Este site não hospeda os textos integrais dos registros bibliográficos aqui referenciados. Para alguns deles, no entanto, acrescentamos a opção "Visualizar/Download", que remete aos sites oficiais em que eles estão disponibilizados.