O romance Nhô Guimarães, de Aleilton Fonseca, é uma homenagem a Guimarães Rosa, conforme indicação na capa do livro. A narrativa é construída a partir das lembranças e recordações de uma narradora sertaneja octogenária que, por meio da linguagem oral, presentifica o passado. A partir de reflexões sobre o papel da memória, busca-se fazer uma análise do sertão como “lugar de memória”, termo criado por Pierre Nora, e das lembranças de velhos como perpetuadoras da história, estabelecendo um diálogo com a obra Memória e sociedade, de Ecléa Bosi.
O romance Nhô Guimarães, de Aleilton Fonseca, é uma homenagem a
Guimarães Rosa, conforme indicação na capa do livro. A narrativa é construída a partir
das lembranças e recordações de uma narradora sertaneja octogenária que, por meio da
linguagem oral, presentifica o passado. A partir de reflexões sobre o papel da memória,
busca-se fazer uma análise do sertão como “lugar da memória”, termo criado por Pierre
Nora, e das lembranças de velhos como perpetuadoras da história, estabelecendo um
diálogo com a obra Memória e sociedade, de Ecléa Bosi.
Esta dissertação se propõe a analisar alguns aspectos atinentes à relação intertextual que se dá
entre os romances Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa, e Nhô
Guimarães (2006), de Aleilton Fonseca, sobretudo no que tange aos elementos de composição
utilizados nas suas narrativas, tendo como elo o contexto sertanejo. A análise partiu de uma
noção de intertextualidade, atribuída por Júlia Kristeva (1974) a partir do conceito de
dialogismo bakhtiniano. Assim, buscou-se analisar, primeiramente, os sentidos atribuídos à
palavra sertão no decorrer do tempo e com a invenção de suas imagens a partir de obras como
a do autor mineiro – que, por sua vez, também constrói um diálogo intertextual com Os
sertões (1902), de Euclides da Cunha – além do romance contemporâneo do escritor baiano,
Aleilton Fonseca, que não somente retoma o sertão ficcional como contexto para seu
romance, mas que também cria intertextualmente o próprio Guimarães Rosa como
personagem de sua ficção. Logo, em seguida, alguns aspectos de composição narrativa dos
dois romances foram tomados para a sua descrição e discussão, como a “voz” sertaneja, a
criação de um relato memorialístico, a inventividade da palavra literária, além do aspecto
“autorreflexivo” e pós-moderno do romance de Aleilton Fonseca. Como traço de destaque nos
dois romances, pode-se dizer que se trata de narrativas de misturas de técnicas e de gêneros
próprios da tradição e da modernidade, situação que demonstra a hibridez e a ambivalência de
seus discursos, além de confirmar o aspecto de “mobilidade”, “ambiguidade” e “pluralidade”
que boa parte da crítica rosiana atribui a sua obra. Já o romance Nhô Guimarães, além de
recriação “estilística” de alguns aspectos de composição da narrativa de Guimarães Rosa,
também apresenta traços que situam essa produção dentro do que alguns teóricos e críticos
estão denominando de narrativa “pós-moderna”, devido ao seu aspecto “autorreflexivo” e de
“metaficção historiográfica”, dados não somente pela incorporação de elementos biográficos
do autor mineiro no enredo de seu romance, mas também pela própria recriação estilística de
elementos e cenas do Grande sertão: veredas.
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