Prosseguindo o trabalho que tenho desenvolvido acerca do lugar do inconsciente na obra rosiana, esta comunicação trata do lugar dos "loucos". As personagens de "Nenhum, nenhuma" e "Lá, nas campinas", por mim estudados anteriormente, manifestam uma perturbação nas relações de seus eus atuais com lembranças obsessivas de lugares lembrados (relações neuróticas). Em outros contos, encontramos personagens que sofrem uma perturbação nas relações de seus eus com o mundo exterior, ou social (relações psicóticas). Pretendo analisar o modo como Guimarães Rosa desenvolve essa ?tópica da loucura? nos seguintes contos: ?Sorôco, sua mãe, sua filha?, ?A terceira margem do rio? e ?Darandina?.
O ponto de partida do ensaio é o diálogo de João Guimarães Rosa com Edoardo Bizzarri, tradutor italiano de Corpo de baile, acerca de uma única página "intraduzível " desse imenso livro de novelas. Veremos que tal página contém a fala de um "doido", o Chefe Ezequiel, que ouve e distingue coisas incompreensíveis para os demais: a linguagem da noite. Dotado de uma percepção aguçada, ele fala uma língua estranha, de conteúdos enigmáticos, freqüentemente atribuindo outros nomes para as coisas e novos significados para os nomes, ou simplesmente criando nomes motivados por inusitadas sinestesias. Brincando com a linha tênue e arbitrária que distingue as coisas do mundo, é essa linguagem obscura que desconcerta a tradução da novela "Buriti ".
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