Este estudo é parte de um trabalho de maior fôlego que se preocupa com o processo de criação literária de Guimarães Rosa. A leitura de manuscritos provenientes do arquivo do autor, que se encontra no IEB/USP, iluminou caminhos de leitura que apontaram o escritor montes-clarense Hermes de Paula como parte do material genético que deu vida e substância a pelo menos duas obras de Rosa: Tutaméia e Estas Estórias.
Quando adentramos o universo literário de Mia Couto, percebemos uma relação com a obra de Guimarães Rosa. Ambos os escritores fazem parte do macrossistema das literaturas de língua portuguesa. De acordo com Jorge Luis Borges, o diálogo entre os escritores, por intermédio de suas obras, atualiza seus precursores. A partir deste ponto de vista, podemos perceber que alguns textos de Mia Couto
nos remetem a aspectos ainda não percebidos da obra do escritor brasileiro. Baseando nossa crítica no “comparatismo de solidariedade”, teorizado por Benjamin Abdala Junior, que rejeita fontes e influências e considera as literaturas no mesmo nível de igualdade, focaremos o conto “O homem cadente”, do livro O fio das missangas, de Mia Couto, comparando-o com o conto “Darandina”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa.
Prosseguindo o trabalho que tenho desenvolvido acerca do lugar do inconsciente na obra rosiana, esta comunicação trata do lugar dos "loucos". As personagens de "Nenhum, nenhuma" e "Lá, nas campinas", por mim estudados anteriormente, manifestam uma perturbação nas relações de seus eus atuais com lembranças obsessivas de lugares lembrados (relações neuróticas). Em outros contos, encontramos personagens que sofrem uma perturbação nas relações de seus eus com o mundo exterior, ou social (relações psicóticas). Pretendo analisar o modo como Guimarães Rosa desenvolve essa ?tópica da loucura? nos seguintes contos: ?Sorôco, sua mãe, sua filha?, ?A terceira margem do rio? e ?Darandina?.
O trabalho realiza um percurso comparativo por três contos que têm figuras de loucos em seu centro – “Darandina” e “Sorôco, sua mãe, sua filha”, de Guimarães Rosa, e “O alienista”, de Machado de Assis –, discutindo as formas que a loucura assume neles e suas relações com a idéia e as demandas de uma certa coletividade, sobretudo a dupla e instável necessidade de romper e manter os limites identitários da dita “normalidade”.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Vernáculas
Esta Dissertação desenvolve um estudo sobre a correlação do mítico, do simbólico e do imaginário na constituição da narrativa de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, tomando por base os contos Pirlimpsiquice, O Espelho, Darandina, A Terceira Margem do Rio, As Margens da Alegria e Os Cimos. Estabelece-se nela a arte como manifestação do real. Defende-se a idéia de que Primeiras estórias possui um princípio interpretativo inerente a estrutura da obra. As reflexões giram em torno das conceituações sobre a consagração do tempo e do espaço, iniciação, imanência, transcendência e transdescendência, Homo Viator (Religiosus/Trans/humano), personagente, psiquiartista, elementos apresentados de modo original na obra de Guimarães Rosa. A palavra chave deste trabalho é travessia, sinônimo de metamorfose, de conversão, mostrando que, por isso, a narrativa está em metamorfose constante, convertendo em símbolo todos os seus elementos. Mostra, ainda, que a força mágica do narrar é o agente ficcional de coesão no qual o mítico e o simbólico se integram na invenção rosiana da realidade. A verdade poética de Primeiras estórias é uma manifestação mítica, simbólica e imaginária. O real é a interação dialética desses três pontos que convergem e convertem o narrar rosiano em narrativa mitopoética: ela não imita a realidade, mas manifesta-a. A mímesis não é imitação, mas concriatividade do mítico, do simbólico e do imginário na constituição do real.
Na obra de João Guimarães Rosa, a loucura não é apenas um tema recorrente. Os loucos apresentam-se intimamente relacionados à poética do autor, são detentores de sabedorias que superam o campo estritamente racional, são seres ligados ao mundo profético, à poesia, à criança e a todos os elementos que simbolizam o homem criativo. A partir de uma das sagas de Corpo de baile e de algumas das estórias que compõem a obra Primeiras estórias, este trabalho propõe um estudo de personagens que vivem à margem da razão, de modo a entender a singularidade do desatino rosiano.
Esta pesquisa teve por objetivo refletir sobre variadas formas de abordagem do tema da loucura na literatura ficcional e na científica. Para tanto, foram consultados escritores que apresentaram em suas obras registros da demência, tratada segundo as concepções das diferentes épocas e dos contextos sociais e culturais em que se inseriam. Buscaram-se exemplares da literatura em que diversos critérios nortearam os diagnósticos de loucura, bem como o tratamento realizado. Considerando-se o papel da ficção ao apresentar a realidade temática, Machado de Assis, com o conto O Alienista, Guimarães Rosa com os contos “Sorôco, sua mãe e sua filha” e “Darandina” e Erasmo de Rotterdam com a obra: O Elogio da Loucura, que constituíram-se como rica fonte de reflexão e análise. Numa proposta interdisciplinar, foram solicitados para a fundamentação teórico-literária Alfredo Bosi, Antônio Candido, Affonso Romano Sant‟Anna, Bastos e Mikhail Bakhtin. Da literatura científica, buscaram-se as contribuições de Foucault, Amarante, Jung, Freud, Miranda e Canguilhem, Goffman e outros que trataram do tema da loucura, nas mais diversas nuances, dando consistência às percepções decorrentes deste estudo.
Este trabalho centra-se no estudo das narrativas “Campo geral”, de Corpo de baile (1956), “As margens da alegria”, “Os cimos” e “Darandina”, de Primeiras estórias (1962), do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967). Será discutido a perspectiva da criança e do louco a respeito do modo de apreensão do mundo e da vida, seja pela beleza, seja pela loucura, visando também a uma leitura comparativa relacionada à temporalidade em “As margens da alegria” e em “Os cimos”, cuja semelhança está presente tanto na temática quanto na estrutura das narrativas. Com o intuito de interpretar os contos selecionados, em que são abordados temas diversificados como: a infância, a alegria, a perda, a morte, a loucura e o sofrimento foram escolhidos estudiosos das obras de Guimarães Rosa como: Paulo Rónai, Claudia Soares, Sílvio Holanda, Luiz Tatit. Tendo em vista que este exame se fundamenta na Estética da Recepção, formulada por Hans Robert Jauss, o qual, sob a ótica de uma hermenêutica literária, defende que o leitor é o principal colaborador na constituição de sentido de uma dada produção literária, em que a experiência estética é conduzida por uma integração entre a herança da tradição histórico-literária e os horizontes interpretativos de quem lê a obra. Dessa forma, no primeiro capítulo, discutiremos acerca do método estético-recepcional e da hermenêutica literária, balizados por textos de Jauss, Gadamer, Ricoeur e Palmer, traçando as orientações teóricas para a construção dos próximos capítulos. No segundo capítulo, proporemos o estudo da interpretação de “As margens da alegria”, “Os cimos” e “Darandina” (Primeiras estórias) e de “Campo geral” (Corpo de baile). Por último, no terceiro capítulo, faremos a análise da recepção crítica das narrativas supracitadas.
Esta comunicação possui como objeto de análise a narrativa “Darandina”, do livro Primeiro Estórias (1962), de João Guimarães Rosa, levando-se em conta aspectos temático-estruturais e o modo de apreensão do mundo e da vida, por meio da loucura. “Darandina” é uma narrativa que relata a história de um sujeito que rouba uma caneta e é surpreendido quando escala uma palmeira, resistindo a qualquer tentativa de ser retirado de lá, há uma irrupção de loucura por parte do sujeito que, no topo da palmeira, inicia um discurso filosófico. Portanto, o discurso do personagem principal revela-nos uma expressiva desconstrução da razão por meio da desconstrução da linguagem. Tendo em vista que os recursos literários metafóricos são evidências fortes, que estudadas pela ótica da psicanálise estimula à reflexão sobre a verdade evidente versus verdade representada. Ao que parece, segundo Eduardo Coutinho (1994), Guimarães Rosa executa verdadeira desconstrução do discurso hegemônico da lógica ocidental, lançando-se na busca de terceiras possibilidades.
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