GUIMARÃES ROSA AND LITERATURE AS LIFE Guimarães Rosa’s stories beget a poetic-existential project, which unveils itself in the story “The mirror”, core of the book First stories. In this story
an idea is launched which proposes life as a continuous exertion of creativity, of which depends the conquest of autonomy and the genesis of a self, who brings his existence forth as the author of his own becoming. After presenting the Rosian story and the constellation of poetic concepts it gives rise to, and besides examining the passionate critical operation its reading requires, the present essay assumes the task of interpreting two stories, one from First stories, the other from Tutameia. Third stories ‡ “Darandina “ and “‡ Uai, eu?” ‡ showing the Rosian project in action in two radically distinct situations, which nevertheless retain sufficient similarity to highlight and
embody the primordial idea they proceed from and also to suggest a kinship between first and third stories, associated in what we might name the Rosian pedagogy of existing.
As estórias de Guimarães Rosa encerram um projeto poético-existencial que se dá a conhecer na estória “O espelho”, centro cordial do livro Primeiras estórias. Ali propõe-se a vida como um exercício contínuo de criatividade, do qual depende a proclamação de uma autonomia e a gênese de um si próprio, que se inaugura para a existência como autor do seu próprio devir. Apresentando inicialmente a estória rosiana e a plêiade de conceitos poéticos que ela engendra e promove, bem como a operação crítico-passional que a sua leitura requer, o presente trabalho toma a si a tarefa de interpretar duas estórias, uma de Primeiras estórias e outra de Tutameia. Terceiras estórias – “Darandina” e “- Uai, eu? ”respectivamente – mostrando o projeto rosiano em ação em duas situações radicalmente distintas, que, no entanto, guardam semelhanças suficientes, não só para realçar e dar concretude à ideia primordial da qual promanam, mas também para deixar transparecer um consórcio entre primeiras e terceiras estórias, irmanadas no que se poderia denominar o magistério rosiano do existir.
Este estudo é parte de um trabalho de maior fôlego que se preocupa com o processo de criação literária de Guimarães Rosa. A leitura de manuscritos provenientes do arquivo do autor, que se encontra no IEB/USP, iluminou caminhos de leitura que apontaram o escritor montes-clarense Hermes de Paula como parte do material genético que deu vida e substância a pelo menos duas obras de Rosa: Tutaméia e Estas Estórias.
Este artigo pretende estabelecer um diálogo com a obra de Mikhail Bakhtin Problemas da poética de Dostoiévski por meio do conto “Darandina”, de Guimarães Rosa, objetivando uma introdução concisa aos conceitos bakhtinianos. A escolha das teorias de Mikhail Bakhtin, para compor esta ligação entre literatura e psicanálise, deve-se ao fato de seus estudos literários terem influenciado o desenvolvimento cultural de vários países do mundo, inclusive o Brasil. O teorizador russo é autor de estudos influentes, contemporâneos do formalismo russo – anos 1920 e 1930 –, divulgados tardiamente no país, pelos autores Tzvetan Todorov e Julia Kristeva, em meados da década de 1960. Este conto mune-se de recursos literários metafóricos e de conceitos que incursionam pela psicanálise numa reflexão muito instigante sobre verdade evidente versus verdade representada, conceitos freudianos. A abordagem de referência se fará à teoria da carnavalização, atendo-se à sátira menipeia como essência, e às inversões de valores sociais hierárquicos, visto que o conto em estudo versa sobre a loucura, causadora de manifestação de estranhamento a olhares convencionais. O caráter ideológico do conto é importante na medida em que busca a análise de uma consciência individual, social e cultural que permeia a fronteira entre a loucura e a sanidade. Por conseguinte, ler “Darandina”, sem destacar a relevância ocupada pela psicanálise, seria afastar-se da percepção de uma sedutora riqueza de possibilidades.
Análise comparativa dos contos “O espelho” e “O alienista”, de Machado de Assis, e “O espelho” e “Darandina”, de Guimarães Rosa, com o objetivo de indicar semelhanças e diferenças no trato do tema do duplo, do espelho, da relação entre razão e loucura, dos papéis e máscaras sociais assumidos pelo homem.
Prosseguindo o trabalho que tenho desenvolvido acerca do lugar do inconsciente na obra rosiana, esta comunicação trata do lugar dos "loucos". As personagens de "Nenhum, nenhuma" e "Lá, nas campinas", por mim estudados anteriormente, manifestam uma perturbação nas relações de seus eus atuais com lembranças obsessivas de lugares lembrados (relações neuróticas). Em outros contos, encontramos personagens que sofrem uma perturbação nas relações de seus eus com o mundo exterior, ou social (relações psicóticas). Pretendo analisar o modo como Guimarães Rosa desenvolve essa ?tópica da loucura? nos seguintes contos: ?Sorôco, sua mãe, sua filha?, ?A terceira margem do rio? e ?Darandina?.
O trabalho realiza um percurso comparativo por três contos que têm figuras de loucos em seu centro – “Darandina” e “Sorôco, sua mãe, sua filha”, de Guimarães Rosa, e “O alienista”, de Machado de Assis –, discutindo as formas que a loucura assume neles e suas relações com a idéia e as demandas de uma certa coletividade, sobretudo a dupla e instável necessidade de romper e manter os limites identitários da dita “normalidade”.
Pretende-se cotejar o conto “O Alienista”, de Machado de Assis, inserido em Papéis avulsos (1882), com o conto “Darandina”, de Guimarães Rosa, publicado em Primeiras estórias (1962). Ambos abordam, de modos distintos e contundentes, as relações entre o poder e o discurso psiquiátrico. Considera-se, ainda, que Guimarães Rosa tenha dialogado explicitamente com o texto machadiano, assim como fez em sua réplica homônima ao conto “O espelho”, também de Machado.
Quando adentramos o universo literário de Mia Couto, percebemos uma relação com a obra de Guimarães Rosa. Ambos os escritores fazem parte do macrossistema das literaturas de língua portuguesa. De acordo com Jorge Luis Borges, o diálogo entre os escritores, por intermédio de suas obras, atualiza seus precursores. A partir deste ponto de vista, podemos perceber que alguns textos de Mia Couto
nos remetem a aspectos ainda não percebidos da obra do escritor brasileiro. Baseando nossa crítica no “comparatismo de solidariedade”, teorizado por Benjamin Abdala Junior, que rejeita fontes e influências e considera as literaturas no mesmo nível de igualdade, focaremos o conto “O homem cadente”, do livro O fio das missangas, de Mia Couto, comparando-o com o conto “Darandina”, do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa.
Investiga-se como narradores e personagens de três contos de Primeiras estórias (“O espelho”, “Pirlimpsiquice” e “Darandina”), de João Guimarães Rosa, utilizam a cultura clássica. O corpus examinado aponta para duas formas distintas: uma subserviente, quiçá rígida, e o mais das vezes explícita, geralmente indicativa de uma postura política e moral conservadora, outra, mais livre e solta e muitas vezes implícita.