Estudo da correspondência de João Guimarães Rosa com os tradutores Edoardo Bizzarri, Curt Meyer-Clason e Harriet de Onís. Observase a importância da correspondência para o trabalho da tradução, no sentido de resolver determinados impasses suscitados pela originalidade do material lingüístico a ser traduzido, e para a compreensão do processo criador. Explicita-se como, para Guimarães Rosa, o diálogo epistolar ? o pacto de colaboração ? que se estabelece entre ele e os tradutores é uma oportunidade para a reflexão a posteriori de seu processo, é o momento propício para assumir os erros e para revelar sua ânsia de perfectibilidade.
O discurso das poesias de Manoel de Barros e o das narrativas de Guimarães Rosa constroem estilos poéticos erigidos, em muito, a partir do tropos imagético. Em Barros, a metáfora instaura – valendo-se de rupturas semânticas, fragmentação de frases, montagem caótica de versos, ausência de semelhança causal entre as coisas – significação que subverte o real como denúncia da coisificação do homem por sociedade desumanizadora
que precisa, urgentemente, ser modificada, subvertida, revolucionada. Em Rosa, a metáfora surge, quase sempre, na reiteração de imagens, embalada por onomatopeias, crispada por neologismos, amplificada por subversiva sintaxe, em jogo lúdico que exprime o ethos poético e a ética do autor. Este artigo analisa em paralelo o estilo dos dois autores, examinando – em suas obras – a elaboração do jogo metafórico e respectivos efeitos de sentido.
El objetivo de este texto es presentar los indicios que sugieren que la prosa y la poética de Guimarães Rosa abrevaron en un universo cultural en el cual la demarcación moderna aún no se había hecho presente. Para tal intento, se echa mano tanto de textos del propio autor como de sus comentadores. Se constata que la cosmovisión del sertanero, locus de la inspiración roseana, estaba más signada por procesos de un Brasil cercano a lo medieval o a lo afroamerindio –cuya visión de mundo era más orgánica, en proceso– que por la visión moderna que emerge en el siglo VII y
subsiguientes en Europa, en la cual la cosmovisión se caracteriza por las separaciones. Dicha visión llega más rápido al Brasil costero (o a los escasos espacios urbanos del interior) que al sertón que Guimarães Rosa retrata. En éste predominará –en pleno siglo XX– una cosmovisión en la cual no se demarcan el ser o la realidad, y no se encuentran presentes las dualidades típicas del pensamiento occidental moderno: hombre y naturaleza (o naturaleza y cultura), dios y el diablo, etc. Se concluye con la indicación de que ciertas creencias incompatibles en el contexto moderno estaban entremezcladas y se componían en la cosmovisión sertanera, y que Guimarães Rosa las capta en su
prosa. En su cosmovisión, hasta los ríos tenían más de dos orillas.
Este artigo apresenta uma reflexão sobre os vaqueiros na obra de Guimarães Rosa. Para compor este personagem freequente de sua ficção, o escritor também se veste de vaqueiro, tornando-se ele próprio um personagem. Essa operação, que aproxima linguagens e perspectivas diferentes, é, nesta análise, apresentada como uma tradução criativa, onde a cultua popular e aestética se encontram.
Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas, São José do Rio Preto
A partir de um conceito que chamamos de etnografia literária, procuramos demonstrar como o sujeito-escritor Guimarães Rosa, voltado para a antropologia, em especial, a etnografia, constrói-se ao longo de materiais como notas de viagem, cartas, anotações de diário e reportagens poéticas; em seguida, demonstramos como essa construção contamina os narradores posteriores de sua literatura. Nesta etnografia literária, consideramos o narrador como um etnógrafo construído a partir da viagem, da observação que valoriza a sinestesia e da empatia para com os personagens, o outro. Esta empatia pode ser vista através da fala direta ou do discurso indireto livre, essenciais à etnografia literária, pois representam o acesso à alteridade. Demostramos como noções de etnografia estão presentes nas narrativas de Ave, Palavra, “Sanga Puytã”, “Cipango”, “Uns índios – sua fala”, “Ao Pantanal” e “Pé-duro, chapéu-de-couro” como também “Entremeio: com o vaqueiro Mariano”, de Estas Estórias e “O recado do morro” e “Uma estória de amor”, de Corpo de Baile. Recolhemos no diário de viagem do escritor, A Boiada, tal visão etnográfica que dialoga com os demais textos lidos na tese.
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS / TEORIA LITERÁRIA E ESTUDOS COMPARADOS
Esta dissertação tem por finalidade analisar três narrativas curtas de Guimarães
Rosa que, por sua vez, tratam ou aludem à cultura sul-mato-grossense. Trata-se dos contos
“Sanga Puytã”, “Cipango” e “Entremeio com o vaqueiro Mariano” que, além de outros temas,
abordam o regionalismo literário enquanto ambiente, homem, linguagem e riqueza cultural da
região. Para tal análise, privilegiar-se-ão os postulados teóricos críticos dos Estudos Culturais,
especificamente os conceitos de cultura híbrida, fronteira, margem e transculturação. Nesse
sentido, o livro Culturas híbridas, de Nestor Canclini, será seminal, por contemplar o conceito
de hibridização cultural que norteará toda a proposta do referido projeto. Também o livro
Literatura e cultura na América Latina, de Ángel Rama, que procurou mostrar Guimarães
Rosa como transculturador narrativo e, ainda, a obra A mobilidade das fronteiras, de Cássio
Eduardo Viana Hissa, que mostrou como é intrincada a questão de fronteiras e limites e como
foi resolvida a questão de fronteira brasileira-paraguaia, mais especificamente.
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