O objetivo do texto é apresentar os indícios que sugerem que a prosa e a poética de G. Rosa beberam de um universo cultural no qual a demarcação moderna ainda não se fizera presente. Para tal intento, vale-se tanto de textos do próprio Guimarães Rosa como de seus comentadores. Constata-se que a cosmovisão do sertanejo, locus da inspiração rosiana, era demarcada mais por processos de um Brasil próximo ao medieval ou afro-ameríndio – e cuja visão de mundo era mais orgânica, processual – do que pela visão moderna que emerge no século VII e seguintes, na Europa. Tal visão alcança mais rapidamente o Brasil litorâneo (ou os poucos espaços urbanos do interior) do que o sertão retratado por Rosa. Neste irá ainda predominar, em pleno século XX, uma cosmovisão em que não se demarca o ser ou a realidade, e não estão presentes as dualidades típicas do pensamento ocidental moderno: homem e natureza (ou natureza e cultura), deus e diabo...Conclui-se indicando que crenças incompatíveis no contexto moderno estavam misturadas, compostas na cosmovisão sertaneja e que Rosa as capta em sua prosa. Em sua cosmovisão, até rios possuíam para além de duas margens.
Em Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, o animal e a morte recorrem e se entrelaçam. Percebemos nessa recorrência uma enorme força estetizante, capaz de coagular os temas, motivos, ideias, afetos e nexos intertextuais que constituem o que é singular a Graciliano e Rosa. Chamamos zoomemento da morte à presentificação conjunta da morte e do animal tanto no universo interno à narrativa (portanto de modo discernível e relevante para os personagens) como ao nível das instâncias implicadas na co-enunciação da obra (autor e leitor implícitos, autor e leitor empíricos, narrador e narratário etc). Segundo invoquem a morte enquanto evento natural ou enquanto ato violento, os zoomementos serão, respectivamente, zoomemento mori e zoomemento occidere. Onde se encontrem enquanto signo da morte em seu anverso, a sede e o gozo de viver, teremos zoomemento vivere. Mori, occidere e vivere, enquanto zoomementos, serão as categorias críticas que nos guiarão na leitura do Vidas secas de Graciliano Ramos e de três estórias do Estas estórias de Guimarães Rosa Bicho mau , Meu tio o Iauaretê e Entremeio Com o vaqueiro Mariano
Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a produção literária de João Guimarães Rosa publicada em jornais e revistas no período de 1947 a 1954, momento localizado entre seu primeiro livro publicado, Sagarana (1946), e os dois livros de 1956, Corpo de baile e Grande sertão: veredas. Procurando desvelar a constituição de uma voz narrativa em primeira pessoa em seu tenso enlace entre impessoalidade e aproximação, mediado pela consciência dos impasses, o foco analítico privilegia uma carta na qual o escritor delineia uma poética precisa que se faz em resposta ao presente histórico, e três narrativas, O mau humor de Wotan (1948), Com o vaqueiro Mariano (1947-8) e Pé-duro, chapéu-de-couro (1952), lidas como textos de circunstância que partilham de um alinhamento ético no qual a busca pela forma implica uma atitude política de resistência.
Esta pesquisa investiga as aproximações do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967) do jornalismo. O ponto de partida é a expressiva colaboração do autor de Grande sertão: veredas (1956) para 18 veículos de comunicação, entre jornais e revistas, no período de 1947 e 1967, resultando em 135 publicações – uma média de 6,7 publicações por ano. A maioria dos textos foi digitalizada e está disponível para na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (BNB). O escritor valorizava e reconhecia a importância da mídia, inclusive como canais reconhecidos de divulgação de suas obras. Rosa recorria aos amigos influentes na mídia quando se fizesse necessário e quando lhe aprouvesse. Detalhamos os laços do escritor com críticos, editorialistas e escritores jornalistas influentes na imprensa, especificamente: Franklin se Oliveira (1916-2000), Álvaro de Barros Lins (1912-1970), Josué Montello (1917-2006), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), João Neves da Fontoura (1889 – 1963), Otto Lara Resende (1922-1992), João Condé (1912-1996) e José Condé (1917-1971) e Assis Chateaubriand (1892-1968). Relacionamos 13 entrevistas que ele concedeu a jornais, revistas e emissoras de televisão, consideradas as que até hoje se tem conhecimento. Ele evitava entrevistas, mas cedeu a profissionais que, sabidamente, travariam com ele um diálogo de alto nível sobre literatura, e a estudantes. Por fim, demonstramos que Guimarães Rosa, em situações específicas, investiu-se do papel de repórter para compor, no formato de reportagem, algumas das histórias que se propôs a narrar: em especial, em ―Com o vaqueiro Mariano‖ e ―Sanga Puytã, ambas originárias da viagem ao Pantanal em 1947.
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