O ponto de partida do ensaio é o diálogo de João Guimarães Rosa com Edoardo Bizzarri, tradutor italiano de Corpo de baile, acerca de uma única página "intraduzível " desse imenso livro de novelas. Veremos que tal página contém a fala de um "doido", o Chefe Ezequiel, que ouve e distingue coisas incompreensíveis para os demais: a linguagem da noite. Dotado de uma percepção aguçada, ele fala uma língua estranha, de conteúdos enigmáticos, freqüentemente atribuindo outros nomes para as coisas e novos significados para os nomes, ou simplesmente criando nomes motivados por inusitadas sinestesias. Brincando com a linha tênue e arbitrária que distingue as coisas do mundo, é essa linguagem obscura que desconcerta a tradução da novela "Buriti ".
Este artigo enfoca um episódio de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, no qual o protagonista Riobaldo, então denominado Urutu-Branco, encontra um leproso e sofre a tentação de matá-lo afim de, como ele próprio afirma, "emendar o defeituoso". Esse episódio é exemplar quanto à tematização da culpa relacionada ao corpo; sua análise possibilita inserir esse tema na questão central de Grande sertão: veredas, a da existência (ou não) de Deus e do Diabo.
Este trabalho desenvolve o tema das duas epígrafes tiradas de A divina comédia e usadas no Capítulo III, da segunda parte, de meu livro O Brasil de Rosa: o amor e o poder. Nele procuro mostrar as variações do tema da vida amorosa no romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
Centro de Comunicação e Expressão. Programa de Pós-Graduação em Literatura
Esta tese busca problematizar um estudo comparado entre a Divina commedia e o Grande sertão: veredas a partir da noção de "Homo viator". Para tanto, nossa análise se concentrou sobre a percepção do aprimoramento do viajante que é também o protagonista nas duas obras Este viajante ficcional é concebido segundo um feixe de relações que Dante-autor e Guimarães Rosa realizam ao compor suas obras, de maneira que nos primeiro e segundo capítulos nos detivemos em alguns destes elementos, a saber: a presença da noção de êxodo bíblico bem como do viajante náutico greco-latino na caracterização deste viajante, o recurso ao narrador-protagonista e a composição das obras como literatura de viagem. Para analisar estes elementos nos utilizamos dos postulados da literatura comparada, da teoria dos arquétipos e da metafísica platônica. Por fim, no terceiro capítulo, realizamos um confronto entre dois episódios das referidas obras: a viagem de Ulisses presente no canto XXVI do Inferno e a viagem ao Liso do Sussuarão presente no Grande sertão: veredas. Este estudo tem por finalidade apresentar o "Homo viator" como metáfora da incansável busca humana da verdade.
Diante dos diversos estudos que Grande Sertão: Veredas tem propiciado nesses seus cinqüenta anos, os de Literatura Comparada tem alcançado um espaço considerável, tendo em vista a vasta erudição que Guimarães Rosa aplicou na composição de seu único romance. Na leitura do Grande Sertão, procuraremos mostrar as inter-relações que essa obra possui com a Divina Commedia, de Dante Alighieri e como um estudo comparativo pode elucidar a compreensão de diversos aspectos das referidas obras.
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