Este texto se propõe analisar o aforismo “Atitudes a respeito da práxis: efeito, vivência, comoção”, do livro Teoria Estética, de Theodor Adorno, na tentativa de se aproximar do sentido e da abrangência do conceito “a obra-de-arte como práxis”; e, por meio desse exercício teórico, dialogar com o conto de Guimarães Rosa, “A Benfazeja”, do livro Primeiras Estórias, investigando seu efeito social e o movimento para a maioridade dos personagens e dos leitores. Serão abordados os seguintes eixos teóricos do aforismo: a relação entre a arte e a teoria na práxis; o efeito social como a relação direta da arte à práxis e o engagement como uma força estética produtiva; a experiência de interpretação da obra-de-arte enquanto irrupção da objetividade na consciência subjetiva e formação da consciência. Em “A Benfazeja”, à luz dos eixos teóricos expostos, serão tensionados os tópicos: a reencarnação da hibris do herói trágico na debilidade física da mulher sertaneja e sua sina de salvar a comunidade, sacrificando-se a si mesma; o discurso crítico do que vem de fora, narra os acontecimentos e desenvolve tentativas de formar as consciências das pessoas do lugarejo; a exortação final do narrador na esperança de que as gerações futuras rasguem o véu de Maia e enxerguem o verum dos fatos; a arte em “A Benfazeja” como expressão de uma práxis produtiva.
Este artigo se propõe a interpretar o conto de Guimarães Rosa, ―Cara-de-Bronze‖ a partir das ideias-chave da Teoria Estética de Theodor Adorno. Em seu momento analítico, o texto se deterá: no estudo da relação das partes entre si na composição da unidade do conto; na tensão da literatura com a música e o cinema na construção de sua forma; nas múltiplas técnicas estéticas utilizadas para expressar os enlaces da estória. No momento interpretativo, se orientará pelos seguintes aspectos qualitativos: os elementos miméticos que, como resíduos irracionais e vitais, se instalam no interior do conto: o boi e o buriti; as manifestações de desatinos dos personagens e suas relações com os estratos não-intencionais da obra-de-arte; e os antagonismos da sociedade que se manifestam no transcorrer da narrativa: sua dimensão dissonante, crítica e utópica. E, com fundamento na declaração de Adorno de que ―As obras, sobretudo as de mais elevada dignidade, aguardam a sua interpretação‖, ousam os autores apresentar indícios para desvendar o enigma desse conto-poema, assim como para detectar o conteúdo de verdade que nele se manifesta.