A extensão do romance Grande sertão: veredas, a não-linearidade, fundamentalmente na parte inicial, as inserções das narrativas de enclave, a voz de um narrador que fala de si próprio e que, na tentativa de refletir sobre a existência, profere um discurso cheio de incursões ao passado são fatores atrelados ao desafio do processo de adaptação. Nos direcionamos para o movimento em direção ao passado e em direção ao futuro, sobre o qual está alicerçado o romance, apontando a existência de diferentes “graus” de passado e da inserção de tempos independentes através das narrativas de “enclave”. Romance, minissérie e roteiro são nossos objetos de pesquisa centrais durante o desvelamento das técnicas empregadas na combinação dos diferentes tempos das narrativas literária e televisual. Muitas outras linguagens entram em consonância no processo de adaptação: a linguagem da câmera com suas angulações e movimentos, a linguagem falada, a linguagem corporal, a linguagem musical, a linguagem icônica, os ruídos e os efeitos sonoros. Para a análise das sequências da minissérie, selecionadas e analisadas comparativamente às sequências literárias, também levaremos em consideração os estudos de Linda Cahir (2006), Julie Sanders (2006), Mireia Aragay (2005) e Sarah Cardwell (2002).
Por meio da presente comunicação compartilhamos reflexões concernentes à investigação, de caráter comparatista, entre o romance Grande sertão: veredas (1956) de João Guimarães Rosa e a minissérie homônima do ano de 1985, roteirizada por Walter George Durst em parceria com o diretor Walter Avancini. O romance é formado pelas diversas camadas temporais que constituem as experiências a partir das quais o protagonista e narrador compõe sua narração. No projeto de adaptação da minissérie, desde seu início, optou-se pela linearidade da trama. Entretanto, ela é interrompida pela interpolação de eventos anteriores e posteriores ao curso da ação principal. Direcionando nosso olhar para o modo como as sequências televisuais são organizadas, destacaremos as técnicas por meio das quais foram criadas a passagem do tempo mais rápida ou mais lenta, a continuidade e as sequências retrospectivas e prospectivas. Pautamo-nos no estudo de Julie Sanders, desenvolvido a partir da diferenciação entre “adapta