O presente estudo tem como proposta investigar quais são os elementos discursivos que compõem a anedota de abstração e os efeitos de sentidos gerados devido à presença recorrente desses recursos nos contos de “Tutameia- Terceiras Estórias”, de Guimarães Rosa. Para tanto, procedemos um exame da fortuna crítica, em especial, sobre o primeiro prefácio, “Aletria e Hermenêutica”, em virtude das reflexões estéticas apresentadas por Guimarães Rosa a respeito da composição da anedota de abstração e da teoria do conto, uma vez que são consideradas pelo autor como um subgênero do conto. Ademais, observamos que o conto rosiano desdobra-se em diversos planos narrativos e acessa a diferentes dimensões do real por meio desse recurso. Desse modo, parte do sentido do texto está em um plano diferente do da narrativa principal e, ao utilizar a anedota de abstração, o autor contorna a ausência da onisciência do narrador e fluxo de consciência para sugerir uma nova maneira de se aproximar das emoções e sentimentos das personagens. Com base nessa premissa, investigamos, de forma qualitativa, as principais características da anedota da abstração levando em conta as relações desse gênero com a anedota, o cômico e a estética do conto. Para tanto, foram utilizados os conceitos palavra bruta, palavra essencial e neutro de Maurice Blanchot; a definição “fora” de Maurice Blanchot, Michel Foucault e Gilles Deleuze; a concepção da vontade de verdade de Michel Foucault; os procedimentos do cômico e da linguagem cômica de Henri Bergson; e a teoria do conto de Ricardo Piglia, Cleusa Rios Passos e Regina Pontieri. Nesta pesquisa, a análise dos contos “Estória nº 3”, “Faraó e a água do rio” e “− Uai, eu?” demonstraram que a anedota de abstração é a proposta estética de Guimarães ao conto moderno, visto que há uma narrativa aparente. No entanto, são os elementos discursivos da anedota de abstração que acessam a estória secreta e revelam a outra dimensão do real nos fazendo sentir aquilo que nos deseja contar