No conto Sorôco, sua mãe, sua filha, busca-se mostrar a realidade de pessoas com
loucura na época em que a cidade de Barbacena, em Minas Gerias, recebia pessoas de todo o
território nacional com doenças mental, num hospital sanatório chamado Colônia, considerado
“um campo de concentração em pleno Brasil”, segundo a pesquisadora e jornalista Daniela
Arbex, no livro Holocausto Brasileiro (2013). Para tanto, usar-se-á tal referencial para mostrar e
comprovar o discurso lógico, vigente em uma época real, mostrado por Guimarães Rosa no
conto a ser estudado.
O artigo tem como objetivo expor e analisar as principais características que fazem com que a obra rosiana seja considerada uma revolução na prosa nacional, a partir do levantamento das vertentes da fortuna crítica e da reflexão sobre o modo como as noções de aparência e realidade apresentam-se em diferentes textos do escritor.
Inspirado pela leitura de Grande sertão: veredas, a proposta deste trabalho é refletir acerca das relações complexas que se estabelecem entre realidade e ficção. Para tanto, busco utilizar o conceito de "porosidade poética", construído em diálogo com a obra rosiana e que visa dar visibilidade à dinâmica efetuada pela arte - em especial a literatura- como veículo de trânsito entre níveis distintos de realidade.
A partir dos pressupostos teóricos sobre a natureza do ficcional à luz de pensadores diversos como Wolfgang Iser, Huizinga, Zumthor e Juan José Saer, procuraremos refletir sobre o ficcional-literário a partir de seus fundamentos antropológicos, seja a plasticidade e o jogo (Iser, Huizinga), seja a voz (Zumthor) ou a especulação entre realidade-irrealidade (Saer), para, num segundo momento, podermos confrontar esses pressupostos teóricos com a configuração do efeito estético em duas narrativas de dois dos maiores escritores brasileiros: Machado de Assis e Guimarães Rosa.