As cartas que Guimarães Rosa trocou com tradutores de sua obra, devidamente reunidas e organizadas por pesquisadores, têm fornecido um material inesgotável de análise e propiciado um fértil debate sobre seu projeto pessoal de escrita, bem como sobre os processos e produtos da tradução literária. Neste artigo, procuramos explorar a correspondência do escritor com três de seus tradutores visando a ressaltar questões ligadas à tradução da obra rosiana emitidas tanto pelo autor como por seus tradutores. Nas cartas a Edoardo Bizzarri, Curt Meyer-Clason e Harriet de Onís, observa-se que Guimarães Rosa estabelece um sólido vínculo de cooperação, que reverte diretamente nas obras traduzidas. Os argumentos e as reflexões trocadas entre autor e tradutores deixam entrever a concepção de escrita literária de Rosa, sua preocupação com a recepção de seus romances e contos no exterior, bem como a visão do que seus tradutores acreditam ser a tradução literária.
Este trabalho pretende apresentar o percurso da criação literária, que começa na suspensão das
certezas do mundo real, por meio da construção linguística e da articulação dos enunciados
metafóricos, para, em seguida, reconfigurar a realidade e dar-lhe outro aspecto, possível
apenas nesse universo de composição simbólica. Nesse processo, alguns textos utilizam o
elemento fantástico para reforçar esse objetivo. De modo a evidenciar esse percurso, dois
contos que tocam essa problemática foram utilizados: As ruínas circulares, do escritor
argentino Jorge Luís Borges, e A terceira margem do rio, do brasileiro João Guimarães Rosa.
Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo comparado entre o romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, e a Chanson de Roland,obra anônima da tradição medieval francesa. Procuro demonstrar como o processo de criação da obra rosiana, que repousa sobre a linguagem, a memória e um imaginário próprio do território sertanejo, remete o leitor à escrita desta canção de gesta que remonta ao século XI; mais precisamente, procuro mostrar como João Guimarães Rosa, sobretudo
em algumas passagens épicas da sua narrativa, procede à apropriação textual da Chanson, como se dela fizesse uma paráfrase no nível mesmo da enunciação literária. Assim procedendo, seu processo de criação sustenta-se na intertextualidade, caracterizando-se como um exercício dialógico que extrapola o caráter documental da narrativa regionalista para afirmar sua ficcionalidade. Ressalvo, ainda,que este procedimento não se caracteriza como excentricidade ou extravagância, na medida em que o imaginário medieval, na intersecção dos universos culturais, encontra-se vivo e presente em nossa tradição sertaneja.Trata-se, pois, de um procedimento antropofágico.
Esta dissertação tem como objetivo a descrição e análise de documentos do arquivo literário de João Guimarães Rosa salvaguardado no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, agrupados sob a designação de Estudos para Obra. Esses papéis, compostos ou coletados pelo autor de Grande sertão: veredas, formam um volumoso e diversificado material de apoio à criação literária, no qual podemos visualizar três grandes usos e funções que apresentaremos separadamente: o registro das experiências cotidianas, na forma de diários e apontamentos avulsos; o arquivamento de notas de leitura, pesquisas temáticas e estudos linguísticos; a experimentação literária, por meio de numerosas listas de elaborações textuais fragmentárias e planos poéticos, ficcionais e ensaísticos. Dialogando com a Crítica Genética, os estudos de Intertextualidade e as reflexões sobre as práticas de arquivamento do escritor, demonstraremos como Guimarães Rosa se utilizava de fontes variadas para a escrita de seus textos e daremos a ver diferentes aspectos que envolvem seu processo de criação literária.
O presente trabalho de dissertação busca compreender os mecanismos que presidem a melancolia e suas eventuais influências na criação literária, a partir de um corte na obra do escritor João Guimarães Rosa. Para a sua execução, o texto inicia com um traçado histórico da melancolia desde a Antiguidade, com Hipócrates, passando pela Idade Média e Idade Moderna e, finalmente, convocando a abordagem psicanalítica, em especial através da obra de Sigmund Freud, para, a partir daí, analisar a obra literária do autor, e tentar compreender até onde a melancolia pode ter influenciado ou não na sua produção.