A obra de Guimarães Rosa é objeto de inúmeras críticas e análises. Em nosso trabalho, buscamos analisar a forma como Rosa imputa um valor intensamente criador à linguagem no conto Meu tio o Iauaretê, de forma que a situação do onceiro dialoga com o impulso da língua adâmico de modeladora da realidade (ECO, 2002). Como instrumental para nossa análise, baseamo-nos nos conceitos de rizoma (DELEUZE & GATARRI, 1995), desterritorialização (DELEUZE & GUATARRI, 1975 e HAESBAERT, 2004) e devir (DELEUZE & PARNET, 1997). Buscamos demonstrar como a solidão do onceiro funciona como um gatilho para o agenciamento homem-onça, e como o delírio da linguagem – com a pulverização da sintaxe habitual e a inserção de vocábulos do tupi – agencia-se como linguagem criadora que se conjuga ao devir-onça.
Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária
Esta dissertação investiga a presença do canto das sereias homéricas em “Meu Tio o Iauaretê”, de Guimarães Rosa, tendo como referencial teórico os estudos de Blanchot (2005), Oliveira (2008),), Agamben (2014) e Nogueira (2014), dentre outros. Na esteira da interpretação blanchotiana, que traça uma analogia entre o canto das sereias e o fazer literário, todo escritor repetiria o feito da personagem homérica, uma vez que a narrativa é um movimento imprevisível e infinito de busca, que presentifica a navegação do canto real ao canto imaginário. Questionamos se há uma retomada do canto das sereias na narrativa estudada, com o objetivo de elencar como isto se dá e qual o seu significado, partindo da hipótese de que o canto jaguanhenhém irrompe da experiência liminar de metamorfose entre voz/canto humano e inumano; português, tupi e ruído animal; língua articulada e não articulada. A conclusão a que chegamos, após a análise, é a de que, nesta narrativa roseana, encena-se o gesto do próprio ato de narrar, em uma linguagem entre humano-inumano, no processo de encantamento, sedução e perdição da tríade autor-narrador-leitor.
Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa
A oralidade reinou absoluta desde os primórdios da civilização, até que, com o desenvolvimento das culturas, o surgimento da escrita revolucionou a forma como o conhecimento passou a ser registrado e preservado. Na busca de melhor compreender a aparente dicotomia entre a modalidade oral e a escrita, este trabalho discute as peculariedades linguísticas orais presentes na linguagem espontânea sertaneja. Assim, decidiu-se utilizar como corpus de análise desta dissertação o conto Meu tio o Iauaretê, do mineiro João Guimarães Rosa (JGR), cujo protagonista Tonho Tigreiro supostamente se metamorfoseia em onça mesclando vingança, ódio e arrependimento, valendo-se de uma oralidade que mistura fenômenos linguageiros caracterizados por neologismos e onomatopeias. A partir da revisão da produção de estudiosos do tema como Preti, Bakhtin, Marcuschi, Ullmann entre outros, o objetivo do estudo pôde ser sintetizado na seguinte indagação: Quais marcas de oralidade presentes no texto analisado caracterizam a fala cotidiana e corriqueira do sertanejo e quais são as peculiaridades linguageiras mais frequentes? Entre os achados, verifica-se que JGR exalta a diversidade cultural e combate, mediante o tratamento linguístico utilizado no texto, possíveis preconceitos à fala corriqueira tão frequente nos usos livres da oralidade e da escrita na prática cotidiana da língua, o que faz rever posicionamentos acerca de conceitos como certo , errado , apropriado quanto ao uso da língua em determinados momentos comunicativos.