Este trabalho é um estudo das novelas Campo geral e Uma estória de amor (Festa de Manuelzão), de Guimarães Rosa, que compõem o livro Manuelzão e Miguilim, um dos três volumes da obra Corpo de baile, desmembrada pelo autor na terceira edição. O intento aqui é articular aspectos da teoria psicanalítica, especialmente a partir dos estudos de Freud e Lacan, à análise estilística das novelas, na tentativa de desvendar as marcas que indicam a constituição do sujeito das personagens Miguilim e Manuelzão. Tais personagens, que desenham um percurso de começo e de fim de vida, são observadas não só em rituais de iniciação que marcam a passagem da infância para a vida adulta, em Miguilim, e da vida adulta para a velhice, em Manuelzão , mas também em pistas deixadas, literariamente, sobre o processo de constituição do sujeito estudado pela psicanálise. Em ambas as histórias, são observados os processos identificatórios, fundamentais para a constituição de um eu, articulados ao processo de descoberta dos sentidos da existência, um dos temas centrais na obra do autor. Nesse recorte, as relações familiares, as figuras da mãe e do pai, as marcas da infância carregadas ao longo da vida, as relações entre o mundo interno e externo, os sentidos que se aprendem tanto na infância quanto na velhice são aspectos centrais no estudo. Os conceitos de sujeito, identificação, desejo, ordem simbólica, condensação e deslocamento, memória e imaginário, tão caros à psicanálise, são instrumentos teóricos importantes para a compreensão desses jogos do inconsciente e das sutilezas do discurso do sujeito e seus desejos. Aponta-se, por fim, a força das estruturas psíquicas que, nascidas na infância, se reeditam na vida adulta, a exemplo dos ecos da vivência da trama edípica. A escolha deste viés metodológico não se constitui como psicanálise da obra ou do autor, nem migra conceitos indevidamente do campo psicanalítico ao campo literário e vice-versa, mas busca centrar-se no entroncamento entre as disci
Este artigo propõe-se a tarefa de tecer reflexões sobre o filme “Mutum”, adaptação para o cinema da novela “Campo Geral”, que integra a obra Corpo de Baile, do escritor mineiro João Guimarães Rosa, desenvolvida pela diretora Sandra Kogut. Para tanto, discorreremos sobre os elementos narrativos que foram alterados na adaptação, bem como sobre as possíveis razões conceituais que possam justificar tais alterações, com especial destaque para a presença marcante do plástico nas cenas de filmagem, em desconformidade com a realidade que se pode supor para o momento histórico da publicação da obra
literária. Debateremos a adaptação do ponto de vista da atemporalidade do texto rosiano, em contraste com as condições socioculturais do sertão mineiro e teceremos reflexões sobre a trama do ponto de vista do protagonista, Miguilim (Thiago, no filme), verificando ainda os elementos artísticos e as técnicas de filmagem que foram adotadas para recriar a intimidade do personagem central. Concluiremos d