Nosso objetivo é investigar a temática da água e do tempo nos contos A terceira margem do rio (1962), de João Guimarães Rosa, e Nas águas do tempo (1994), do autor Mia Couto. As duas estórias dialogam sobre as questões da vida e da morte a partir da representação da travessia pelo rio, e sobre a experiência diante o tempo. Para compreendermos a presença da água como um elemento material, que revela a substância e o destino dos personagens, utilizaremos o estudo de Gaston Bachelard (1997), A água e os sonhos. A água representa a renovação da ancestralidade, fazendo referência aos tempos sagrado e profano. O aporte teórico para a compreensão do tempo sagrado e profano será Mircea Eliade (2008), que define a experiência do homem religioso como mysterirum tremendum e mysterium fascinans, duas experiências que estão representadas na vivência dos personagens e os conduzem a outra possibilidade de real. O pai e o avô, respectivamente personagens de Guimarães Rosa e Mia Couto, ao realizarem a travessia pelas águas desestabilizam as margens conhecidas e promovem uma reflexão sobre o ser e o estar no mundo. DOI: https://doi.org/10.47295/mren.v10i6.3438
O ensaio propõe um exercício de leitura da estória “Terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa: partindo de uma análise do título, deduz cinco lições, tanto sobre o texto de Rosa como sobre a própria ideia de leitura.
O presente artigo se a propõe analisar o conto “A terceira margem do rio” de João Guimarães Rosa, tendo em vista a poesis do devaneio desenvolvido por Gaston Bachelard. No conto, a imagem do rio, representada em suas três margens através das águas que se projetam, aparece como o grande símbolo da universalidade. Trata-se da epifania de um mistério que revelando estados de uma alma em devaneio, tece arte e vida numa conjunção de integralidade, força e beleza.
Na geografia/simbologia do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, o Rio São Francisco tanto é um acidente físico como um elemento significativo de uma realidade mágica que divide o mundo na margem direita, de Deus e do bem, e na esquerda, dos que tem pacto com o Demo. Neste espaço geográfico e simbólico, o personagem Riobaldo realiza sua travessia, no sertão e na sua alma, buscando se libertar da condição de pactário e assumir justamente seu nome: o que tem a força do rio - símbolo do incessante movimento da vida -, que se auto determina.