Partindo do “julgamento” a que é sujeito o chefe-jagunço Zé Bebelo e da análise do conto “A Hora e Vez de Augusto Matraga”, este artigo analisa a constituição de um código de lei particularíssimo, consuetudinário, onde a lei-de-morte será norma de conduta em Grande sertão: veredas.
Analisam os a narrativa fílmica de Pedro Bial Outras estórias que retoma cinco contos de Primeiras estórias, de Guimarães Rosa. O enfoque da análise são os motivos casamento e velório, que figurativizam os valores universais vida/morte, e o espaço do sertão. A partir desse recorte, propomos uma leitura que pretende demonstrar como o texto de Bial constrói a Cinderela do sertão mineiro.
Trata-se de investigar o fenômeno da morte em sua relação com a palavra poética no conto “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” de João Guimarães Rosa (1908-1967). O pensador de fundo é Martin Heidegger (1889-1976) cujos escritos sobre a linguagem, datados entre os anos de 1950-58, devem dar o Norte de nossa interpretação.
A interpretação canônica do conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, nos fala da existência humana diante da morte. O pai morre (a canoa é o caixão) e vai para a dimensão transcendente ― a terceira margem do rio. O filho permanece fiel à memória do pai, recusandose a esquecê-lo e, portanto, recusando-se a aceitar a morte do pai e a sua própria morte. Gostaria de propor uma interpretação diferente fazendo uma análise intertextual com o poema de Fernando Pessoa, “Navegar é preciso;
viver não é preciso”. Fernando Pessoa recebeu influência do existencialismo de Heidegger e de Sartre. Nesta interpretação, o conto de Guimarães Rosa é uma metáfora da condição humana. A terceira margem é simultaneamente o não-lugar da loucura e dos projetos de vida. O não-lugar não se confunde com nenhum lugar, pois ele indica um lugar que ainda não existe concretamente, mas que existe enquanto significador das ações existenciais. Eu estou direcionado para este lugar. Assim, o pai insiste em fixar o seu projeto individual (a canoa) em um rio que não para de correr (a finitude da vida; o transcorrer da temporalidade). Esta é a característica marcante da existência humana: a tentativa de enraizamento no fluxo contínuo do tempo vivido. Permanecer na mudança; fixar o transitório; banharse duas vezes no mesmo rio (segundo Heráclito, isso seria impossível, pois o rio já não é o mesmo, assim como você mesmo). Segundo Pessoa, viver não é necessário; o que é necessário é criar. Diante de uma existência humana sem nenhum sentido a priori, só nos resta criarmos, nós mesmos, um sentido para ela, através de um projeto de vida, mesmo que esse projeto seja ficar navegando no mesmo lugar de um rio.
Instituto de Letras e Comunicação. Programa de Pós-Graduação em Letras.
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise da relação dos temas de alteridade e morte na narrativa de “Páramo”, de João Guimarães Rosa, tendo como base as concepões expostas por Hall (2006), Bhabha (1998), ambos acerca do conceito de alteridade, bem como as concepções teóricas sobre a morte propostas por Ariès (2012) e Levinas (2000). Publicado em Estas Estórias (1969), “Páramo” é considerado uma “estranhidade” dentro do conjunto da obra de Guimarães Rosa, por ser um dos textos mais autobiográficos do autor e por ser ambientado no espaço urbano de uma cidade estrangeira. Nesta narrativa, um embaixador brasileiro é enviado a uma cidade andina para cumprir deveres diplomáticos, e, após se chocar com a alteridade do lugar, ele começa a viver um processo de descentramento de sua identidade, que culmina com o sentimento de morte e a necessidade de renovação do ser. A nossa pesquisa de “Páramo” se faz relevante na medida em que traz para a análise de “Páramo” novas discussões da relação da inevitável relação que se estabelece entre o eu e o outro relacionados ao tema da morte no texto de “Páramo”, de modo a refletir os desdobramentos filosóficos e culturais decorrentes dessa relação. Esta pesquisa está dividida em três partes: Na primeira etapa desse trabalho serão expostos e analisados os conceitos de alteridade e morte segundo os autores mencionados acima. Na segunda parte, lançar-nos-emos à reflexão acerca dos problemas teóricos e filosóficos suscitados pela imbricada relação entre alteridade e morte em “Páramo”, partindo do diálogo com categorias e conceitos como Ser, Outro e o momento estranho. Na terceira e última parte desse estudo, nós realizaremos um dialógo das concepções apresentadas em nossa pesquisa com as concepções dos mais relevantes estudos publicados até os dias de hoje acerca de “Páramo”, como os estudos realizados por Hector Olea Galaviz (1987), Maria Thereza Scher Pereira (2007 e 2009), Bairón Escallón (2011, 2012 e 2013), Luciano Antônio (2013), Gisálio Cerqueira Filho (2013), Betina Cunha (2014), Maria Magnabosco (2003), Edson Oliveira (2010) e Paulo Moreira (2013) a fim de se contribuir para a discussão existente acerca dessa narrativa de Guimarães Rosa.