Uma
pesquisa recente da Fundação Seade chamou a
atenção para o fato de que, mantendo-se a atual
taxa de natalidade e mortalidade, em 2020 a região
metropolitana de São Paulo terá uma população
de idosos 125% maior que a atual. Serão mais que o
dobro de pessoas vivendo numa metrópole que com certeza
não está adaptada às suas necessidades.
Estudos
recentes mostram que a situação dos idosos na
capital e na maioria das cidades grandes é de baixa
qualidade de vida.
"No
Brasil observou-se que o envelhecimento da população
é muito mais rápido do que nos países
da Europa, por exemplo. Isso num país que nem de longe
tem sistemas de saúde pública e previdência
social com a qualidade dos europeus. Em São Paulo,
além desses fatores, há a poluição,
violência, estresse e relações familiares
abaladas que resultam em taxas preocupantes, como o alto índice
de depressão entre os idosos", alerta Maria Lúcia
Lebrão, coordenadora do projeto Saúde, Bem-Estar
e Envelhecimento, convênio da Faculdade de Saúde
Pública com a Organização Panamericana
da Saúde.
Os
dados desse projeto são desanimadores. Por exemplo,
54% dos idosos consideram sua saúde regular ou
ruim. A pressão alta atinge 60% das mulheres acima
de 75 anos e 63% dos entrevistados possuem próteses
dentárias, faltando a eles de quatro à metade
dos dentes naturais. Quando se analisa a deterioração
cognitiva (conhecida popularmente como caduquice, ou seja,
a capacidade dos idosos de compreender o seu redor), percebe-se
o curioso fato de que ela atinge 16,8% dos idosos sem
escolaridade, e apenas 1,2% dos que freqüentaram
a escola por mais de seis anos. A depressão, que
talvez seja o problema mais grave, atinge um quarto das
mulheres entre 60 e 74 anos. |
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"Sobre
a questão do dinheiro público para cuidar desses
idosos, é consenso que ele será insuficiente.
Por isso, é mais racional pensar em alternativas como
a Saúde de Família, que provou ser eficaz na
diminuição das taxas de internação
entre os idosos, um dos procedimentos que mais custam aos
cofres públicos", afirma Maria Lúcia. Iniciativas
como o Estatuto do Idoso, aprovado recentemente, também
podem auxiliar a diminuir o abandono dos velhinhos.
Mas
a diferença entre uma velhice feliz e uma deprimida
não é medida apenas por questões financeiras
ou de saúde. É muito comum a depressão
vir associada à indiferença dos filhos, ao tédio
provocado pelo tempo ocioso e a sensação de
inutilidade que invade a frágil psicologia dos idosos.
Esse problema não atingiu Manoel Balbino e sua esposa
Jandira, ambos funcionários aposentados da USP. Eles
trabalharam na Faculdade de Saúde Pública, onde
Manoel era analista químico e Jandira, bióloga.
Após se aposentar, os dois fundaram um abrigo para
crianças carentes no município de Cotia. O projeto
foi fruto de um esmerado planejamento que consumiu boa parte
da vida do casal. "Todo o nosso casamento foi planejado
para que quando a aposentadoria chegasse, e a gente pudesse
montar esse abrigo. Enquanto trabalhamos na USP, todos os
nossos colegas, principalmente os chefes, fizeram o que foi
possível. Nós tivemos sete filhos, e todos ajudam
de alguma forma", explica Jandira. Entre os que ajudaram,
está até o atual reitor da Universidade, Adolpho
José Melfi. "Trabalhei
com o Melfi em suas aulas de graduação no Instituto
de Geociências. Ajudava ele nas análises químicas
das rochas", lembra Manoel.
O
Lar Fraternidade Casa de Emmanuel abriga atualmente 42 crianças
de 2 a 17 anos, que vão à escola, recebem três
refeições diárias e realizam várias
atividades que visam a dar-lhes cidadania. O contato com as
crianças obrigou os dois a cuidarem mais da saúde
e serem mais ativos, para acompanhar a vitalidade das crianças.
"Outro dia mesmo tinha um garoto querendo jogar futebol,
e lá fui eu chutar a bola para ele defender. Esse
tipo de coisa nos faz se sentir mais jovens", diverte-se
Jandira.
Muitos
idosos saem de São Paulo quando se aposentam, procurando
maior qualidade de vida no interior ou no litoral. Para a
pesquisadora da Sáude Pública, isso é
um hábito saudável. "Não há
dúvida que cidades menores oferecem mais tranquilidade
e são ambientes mais saudáveis para os idosos.
Acho esse êxodo um fenômeno muito interessante",
afirma.
Mas
nem todos os aposentados preferem a vida pacata do interior.
Oswaldo Gonçalo dos Santos, funcionário
do Departamento de Serviços Gerais da FFLCH, nasceu
em Feira de Santana na Bahia e, aos 67 anos, está
prestes a se aposentar. "Eu nem penso em voltar pra
Bahia. Gosto de São Paulo, da agitação
da cidade. Também nunca tive problemas com os ônibus
ou com os hospitais. Faço tratamento de diabetes
no Hospital Universitário e a demora dá
pra agüentar", explica ele. Apesar de gostar
de São Paulo, Gonçalo alimenta um sonho.
"Eu gostaria de comprar uma pequena chácara,
perto da cidade, pra poder ficar curtindo a aposentadoria
sossegado. Mas não quero ir pra longe de São
Paulo de jeito nenhum", afirma. |
![](ilustras/comporta02.jpg) |
Na
contramão está Zoraide Pereira Grassi. Funcionária
aposentada da Faculdade de Odontologia de Bauru, onde mora
desde os oito anos, ela adora a tranqüilidade do interior.
"Aqui é muito fácil pra se deslocar de
um lugar para o outro, todo mundo se conhece, sempre tem como
arranjar carona com alguém", afirma. Desde que
se aposentou, em 1993, é uma das freqüentadoras
mais assíduas do projeto Revivendo, do Centro Cultural
da USP Bauru. "Eu faço parte do projeto desde
o início, e já fiz de tudo. Faço ginástica,
teatro, canto coral, pintura a óleo... Eu adoro esse
projeto, é muito saudável para os idosos, pois
é muito fácil após a aposentadoria a
pessoa se acomodar e acabar um viciado em televisão,
reclamando de dores, e eu não quero isso nunca para
mim", afirma.
Além
do projeto Revivendo, a ativa Zoraide encontra tempo para
outro projeto voltado à terceira idade, em um clube
de Bauru. Além disso, nos fins de semana ela participa
de um grupo de Escoteiros da cidade. "Eu sempre fui ligada
ao escotismo, os meus filhos participaram e até hoje
eu faço questão de trabalhar com os lobinhos.
O contato com as crianças me faz sentir mais jovem",
diz.
Zoraide
acha que os próprios idosos devem se ajudar. "Eu
sou de classe média, e tenho recursos financeiros e
culturais razoáveis. Agora, um idoso de periferia não
tem nada disso, e eles são os que mais sofrem. Então
por que não os idosos com mais recursos ajudar esses
menos favorecidos?". "Acho que esse é o jeito
mais fácil de minorar o sofrimento dos idosos no Brasil,
que tende a piorar com o envelhecimento da população",
completa a ativa aposentada.![](images/fundo03.gif)
![](images/branco.gif) |
USP
tem programa para a 3ª Idade |
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A
Pró-Reitoria de Cultura e Extensão
Universitária da USP mantém o programa
Universidade Aberta à Terceira Idade, que
disponibiliza para maiores de 60 anos vagas em
diversas disciplinas e atividades complementares
realizadas pela Universidade. Todos os campi da
USP participam do projeto, que tem como objetivo
possibilitar ao idoso aprofundar seus conhecimentos
em alguma área e, principalmente, aumentar
o contato deles com os jovens que são grande
maioria na Universidade, o que resulta em uma
intensa troca de experiências e informações
entre esses dois grupos etários. As inscrições
para as turmas de 2004 estão abertas, e
podem ser feitas nas secretarias de cada unidade.
Para saber as disciplinas e atividades complementares
oferecidas, é necessário entrar
no site. www.usp.br/prc/3idade. |
![](images/fundo03.gif) |
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