A obra de João Guimarães Rosa é povoada por variada
fauna. A caracterização singular que a assinala é resultado dos
exercícios descritivos do autor, como se verifica em Ave, palavra
(1970). De modo geral, a representação dos animais na obra rosiana
segue duas possibilidades: protagonismo e utilitarismo. Tanto num
quanto noutro, a afeição pelos animais é manifesta. A partir desse
cenário, o presente artigo objetiva observar a construção do discurso
ecológico na obra rosiana, através da atitude estratégica do narradorpersonagem
do conto "Tapiiraiauara", de Tutameia (1967). Encerra
reafirmando a intimidade e a empatia da obra com os animais.
Guimarães Rosa renova a perspectiva regionalista no Brasil ao ultrapassar o pitoresco e o
exótico regional quando apresenta procedimentos literários, os quais destacam expressividades linguísticas e temáticas com base na voz do homem do sertão. Neste artigo, num primeiro momento, são apresentadas considerações a respeito da obra de Rosa em relação ao ponto de vista regionalista brasileiro de forma a contextualizá-la; em seguida, como foco principal, intenta-se mostrar como pode estar presente no conto “Antiperipleia” um discurso ardiloso, ou persuasivo, por parte do narrador, que passa a ser sujeito do discurso ao invés de objeto de observação passivo. Para dar conta desta tarefa, foi revisitada a fortuna crítica sobre o autor, incluindo Bosi (1988), Coutinho (1991), Candido (2002) e Galvão (2000), dentre outros. Espera-se, com isso, contribuir com os estudos acerca da voz narrativa, na obra de Rosa.
O presente artigo traz uma análise do conto "Rebimba, o bom", de João Guimarães Rosa. O conto integra a última obra publicada em vida pelo autor, intitulada Tutameia (terceiras estórias), composta de quarenta contos curtos. A leitura analítica deste conto parte de uma breve contextualização da obra e algumas considerações acerca da opção narrativa empregada no texto. Na sequência, é realizado um detalhamento de como o narrador-personagem anônimo constrói a estória,
em uma alternância pendular de felicidade e infortúnio, até a conclusão conciliadora do conto, em que se revela a figura misteriosa de Rebimba. Para auxiliar na tarefa analítica, foram
retomados estudos da obra de Rosa realizados por Nilce Sant’Anna Martins (2001), Vera Novis (1989), Silviano Santiago (2001) e Irene Gilberto Simões (1988). Espera-se, com esta leitura,
contribuir com os estudos acerca da produção contística de Guimarães Rosa.
Tutameia - Terceiras Estórias veio a público em julho de 1967 e é o último livro publicado por João Guimarães Rosa. As narrativas mínimas que compõem o volume destoam do estilo apresentado pelo autor nas obras anteriores. Originalmente escritos para publicação na revista O Pulso, os 40 contos representam a capacidade do autor mineiro em sintetizar o fato narrado, ao mesmo tempo em que amplia a disposição significativa por meio do entredito. O espaço em que se desenrolam as narrativas é o mesmo que caracteriza o conjunto da obra rosiana, povoado por jagunços, vaqueiros, boiadas e buritis. O presente artigo versa sobre a estratégia narrativa memorialista em “– Uai, eu?”, de Guimarães Rosa, conto de Tutameia (1967). Para tanto, verifica a fortuna crítica acerca do tema proposto, destacando as considerações de Araújo (2001), Candido (2002), Coutinho (1997), Bosi (1988), Duarte (2001), Riedel (1980) e Santos (1991). Como procedimento de análise literária, recorre à observação das questões que compõem a organização narrativa do conto, de acordo com a perspectiva narratológica delineada por Gérard Genette, em Discurso da narrativa. A observação dos detalhes compositivos dessa organização textual indica uma estratégia narrativa que funciona como adjuvante na busca pelo ideal tripartido do narrador: inteligência, bondade e justiça. Conclui que a conduta reformada e testemunhal de Jimirulino, representada pela sua voz na narração, funciona como argumento em favor do depoente que, por meio dela, mostra-se incapaz de perceber as contradições de seu comportamento no tempo do crime.
Este ensaio objetiva apreender a maneira de ser dúplice do narrador presente em "O outro ou o outro" (Tutaméia: terceiras estórias), de João Guimarães Rosa: ser distanciado do narrado e, concomitantemente, participativo no mesmo.
O presente artigo objetiva realizar uma análise do conto “Esses Lopes”, de João Guimarães Rosa. No texto literário em questão, o leitor se depara com uma narradora-personagem, a Flausina, que relata as diversas formas de violência vividas em sua juventude; bem como o detalhamento dos artifícios, por ela utilizados, para se livrar de seus sofrimentos. Para tal análise, primeiramente, será observada a opção narrativa do autor, recorrente em sua obra, em uma breve tentativa de localização da obra de Rosa no panorama literário brasileiro. Em seguida, será destacada a importância, para a construção do enredo, desta modalidade de narrador, que conta uma história da qual participou como protagonista. A análise segue com a evidenciação da pertinência, ainda atual, da abordagem da violência contra a mulher – tema que é tratado no conto em questão. Nesta análise será destacado, ainda, o modo pelo qual a narradora tenta superar seus traumas a partir da concretização de planos ardilosos e fatais contra seus opressores, tentando justificar, em seu discurso, suas ações, também
violentas. Empregam-se considerações teóricas de Bosi (1988), Genette (19--) e Reis; Lopes (1988), para auxiliar a tarefa analítica. Espera-se, com o presente artigo, refletir acerca da opção do foco narrativo e sua pertinência para a construção dos significados no conto.