O presente artigo realiza um estudo sobre o conto
“Conversa de Bois”, publicado em Sagarana (1984), de João
Guimarães Rosa. Partindo do universo popular da narrativa,
passando pelo recurso do mito utilizado, o nosso estudo, situando as
relações de dependência e servidão da personagem Tiãozinho e dos bois
ao carreiro Agenor Soronho, focaliza a reflexão das vozes bovinas na
qual se encadeia uma crítica à marcha civilizacional de subjugo ao
reino animal. Precisamente o desrecalque da fala dos bois, liberando a
imagem de uma ancestralidade escravizada e emudecida pelo tempo
histórico, reclama um lugar de justiça e visibilidade para a alteridade
obliterada.
A obra de João Guimarães Rosa é povoada por variada
fauna. A caracterização singular que a assinala é resultado dos
exercícios descritivos do autor, como se verifica em Ave, palavra
(1970). De modo geral, a representação dos animais na obra rosiana
segue duas possibilidades: protagonismo e utilitarismo. Tanto num
quanto noutro, a afeição pelos animais é manifesta. A partir desse
cenário, o presente artigo objetiva observar a construção do discurso
ecológico na obra rosiana, através da atitude estratégica do narradorpersonagem
do conto "Tapiiraiauara", de Tutameia (1967). Encerra
reafirmando a intimidade e a empatia da obra com os animais.
O animal habitou o primeiro círculo relacional do homem em sua
relação com o mundo, tanto em forma de carne e couro, como sob o manto da
magia. Povoa, também, o imaginário primitivo, tal como o contemporâneo,
consistindo em uma de suas primeiras metáforas, ademais é tema recorrente
na história das representações. Nesse contexto, o prisma literário disseca e
expõe o espectro da besta entranhado no homem. Valendo-se, a literatura, de
um raciocínio analógico sob essa relação, a presente pesquisa propõe a análise
das representações de animais na obra “Meu Tio o Iauaretê”, de Guimarães
Rosa, a partir do diálogo com produções literárias e filosóficas, tendo como
referencial teórico os estudos de Agamben (2002), Bataille (1993), Deleuze;
Guattari (2012), Derrida (2002), Maciel (2008; 2011), entre outros.