Entre as estórias de Guimarães Rosa há elos surpreendentes que se trançam de modo esquivo. Temas, ideias, tramas, imagens retornam num procedimento de orquestração que esboça uma musicalidade partitural e delineia uma simbólica rosiana. Em seu universo poético, duas linhas de força que se impõem e solidamente se vinculam são o Amor e a Saudade. Num traçado complexo e cheio de dobras (=pli), Eros atravessa o sertão de Rosa, promovendo ligações, separações e reencontros que desafiam a lógica do espaço-tempo. Neste trabalho, detenho-me na interpretação minuciosa de duas estórias de Tutaméia: Arroio-das-Antas e Se eu seria personagem. Entre elas procuro desvelar reveladoras intersecções e a partir delas teço conexões com diversas outras passagens da obra de Rosa.
Este trabalho será desenvolvido com base em quatro contos de Guimarães Rosa: "Arroio-das-Antas", "Esses Lopes", Estória no 3" e "Estoriinha". A escolha desses textos como objeto de análise decorreu do fato de apresentarem como pontos de contato: a interdição, o amor, a punição, o destino e a morte, elementos que são comuns ao trágico. Nosso objetivo é tratar esses aspectos e mostrar de que forma instauram o humor nos contos mencionados.
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a presença da Necessidade (Anánké) no conto “Arroio-das-antas”, do livro Tutameia (2017), de João Guimarães Rosa. Trata-se de uma “aclimatação” do destino trágico grego no sertão do escritor mineiro, em convergências que se colocam no centro do Destino e da Origem como organização do mundo, em Cosmogonia, em que na narrativa de Rosa desenvolver-se-á como alegoria. Para isso, abordaremos a “estória” a partir da crítica que considera a obra rosiana como aberta às perspectivas universais, lugar onde convivem as diversas “vozes” da cultura humana, como a grega, por exemplo, assim como possibilidades, em que se lê as narrativas hermeneuticamente, como tantos críticos já o fizeram.
Paisagens são textos carregados de sentidos. Mais que pano de fundo das histórias, a leitura da paisagem dinamiza a interpretação dos textos, já que ela se constitui pelas relações estabelecidas entre os sujeitos e os lugares, conforme Holzer (1999). Relacionando os estudos literários a conceitos da geografia cultural, este trabalho pretende ler a construção da paisagem no conto “Arroiodas-Antas”, do livro Tutaméia (1967), de Guimarães Rosa, aliando o espaço de remissão mítica presente no conto ao percurso simbólico de regeneração efetuado por Drizilda, personagem central.
Este trabalho procura discutir alguns aspectos do mito do eterno retorno indiciado no conto “Arroio das Antas”, integrante de Tutaméia: terceiras estórias (1967) de João Guimarães Rosa. No conto, a conotação simbólica revelada pelas imagens recorrentes na caracterização da personagem feminina, focaliza aspectos que evidenciam o papel da mulher associado à Cosmogonia e ao sentido de retorno às origens.
Visa-se a discutir como a obra de João Guimarães Rosa consegue ser um instrumento
de resgate e de valorização da língua oral. Partindo da perspectiva de que a
oralidade – desde mais precisamente o século o XVI – sempre fora descartada e/ou
marginalizada por uma política de prestígio ou mesmo pela produção acadêmica, a
obra de Rosa desponta como uma amostra de que a língua só se justifica enquanto
discurso efetivo; enquanto prática inserida num dado contexto social ou mesmo numa
dada circunstância. Nesse sentido, o autor faz uso de procedimentos reconhecidos por
uma tradição acadêmica como mecanismo de evidenciar (ou validar) outra tradição: a
língua oral. Mais precisamente neste artigo, adotam-se alguns contos das obras Primeiras
Estórias e Tutameia, do aludido autor, como forma de elucidar como G. Rosa,
mediante recursos tipicamente poéticos (tradição literária), consegue fazer da tradição
oral uma modalidade linguística que merece ser reconhecida e, por conseguinte, digna
de se ver representada pela tradição acadêmica. O escritor mineiro busca, dessa maneira,
através de uma tradição, resgatar outra tradição: a oralidade. Assim, a obra de
Rosa disponibiliza para a língua oral um espaço efetivo e, portanto, representativo na
produção ficcional brasileira.