No ano em que se comemora o cinquentenário de morte do escritor Guimarães Rosa, o presente artigo objetiva discutir de que modo a questão do sagrado se faz presente na coletânea de contos que compõe a obra Sagarana, do escritor mineiro. A proposta de leitura que aqui se apresenta será feita tendo por princípio a noção de sagrado que é defendida pelo poeta e teórico mexicano, Octavio Paz, que vê o sagrado e a poesia como exemplos de revelação poética. O livro Sagarana, primeira publicação literária de Guimarães Rosa, é composto por nove contos, no entanto, neste artigo se pretende dialogar com apenas três narrativas, por acreditar que uma leitura de todos os contos exige um trabalho de maior extensão e fôlego que requer algo além dos limites de um artigo. As narrativas objetos de interlocução aqui, portanto, são: A hora e vez de Augusto Matraga, São Marcos e Corpo fechado.
Este artigo tem por objeto dois contos do livro Sagarana, o primeiro é São Marcos, e o segundo, Corpo Fechado. Nosso objetivo é analisar o imaginário afro-brasileiro de João Guimarães Rosa, mineiro do sertão de Cordisburgo. Na análise das obras, serão utilizados os referenciais teóricos que dizem respeito às estruturas do imaginário, às conceituações de magia brasileira nas ambiências dialógicas entre o dito e o feito, mas também na tradição histórica da temática de ritual e feitiço a partir dos clássicos, Claude Lévi-Strauss e Marcel Mauss, assim como os contemporâneos Bronislaw Malinowski e Yvonne Maggie. Nosso desafio é analisar o imaginário afro-brasileiro em seus usos da reza, magia e feitiços, retratados ficcionalmente por Guimarães Rosa nos contos São Marcos e Corpo Fechado, ambos formam um breve retrato de nossa afro-brasilidade, e uma oportuna leitura da cultura e religiosidade popular no sertão mineiro e brasileiro.
O objetivo deste artigo é fazer uma análise da estrutura narrativa do conto "Corpo fechado", de João Guimarães Rosa (1908-1967), inserido no livro Sagarana, de 1946. Divide-se a análise do conto em quatro partes, sugeridas pelo próprio narrador, o qual três vezes corrige o início da história. Além disso, alguns procedimentos lingüísticos são comentados.
A tradução das obras de Guimarães Rosa teve início ainda durante a vida do autor, que, em muitos casos, ajudava seus tradutores em cartas detalhadas com sugestões e discussões sobre seu processo criativo. Nos Estados Unidos, em particular, a tradução de Rosa para o inglês acontece no contexto da aproximação dos Estados Unidos com a América do Sul entre as décadas de 1940 e 60, embora os efeitos desta iniciativa de tradução de obras latino-americanas não atinjam o Brasil com tanta força (BARBOSA, 1994; LEVINE, 2006; KRAUSE, 2010). Neste artigo, busca-se analisar como as escolhas da tradutora Harriet de Onís podem ter influenciado a recepção da obra de Guimarães Rosa em inglês. Por meio do cotejo do conto “Corpo fechado” (Sagarana, 1946) e sua tradução, “Bulletproof” (Sagarana, 1966), concluiu-se que de Onís tende a domesticar (VENUTI, 1995) o texto de Rosa, naturalizando seu estilo não-convencional e, portanto, negando aos leitores o acesso ao seu projeto estético. Sugerimos, por fim, ser possível que um novo projeto tradutório para Rosa receba mais atenção do público falante de língua inglesa do que a tentativa anterior, ao tornar o texto desafiador para o leitor, sem negar a identidade do texto de partida.
Este artigo propõe o apontamento de algumas questões relativas à construção da imagem do leitor nas tramas de Guimarães Rosa. Partiremos da percepção de que o texto ficcional é composto por uma série de preorientações para sua recepção e também de que na obra de Guimarães Rosa temos como marca constitutiva a ficção de um leitor no texto. Essa ficção apresenta-se desde Sagarana até Ave, palavra e Estas estórias, livros publicados postumamente. Para entender como se dá essa ficcionalização do leitor, partiremos aqui da análise desse aspecto nos contos “Corpo fechado”, “Desenredo” e “Antiperipléia”, o primeiro de Sagarana e os dois últimos de Tutaméia.
A análise do conto “Corpo fechado” de Guimarães Rosa pretende ressaltar, neste trabalho, a importância da nar-ração de um médico que contribui para a ambiguidade da crença na eficácia da magia, episódio central da história. A narrativa constrói-se a partir de duas visões de mundo: a primeira, mais científica ou citadina, representada pelo médico; a segunda, proveniente da viva imaginação do protagonista ao contar seus causos. O narrador apresenta, no primeiro momento, sua descrição de Laginha, suas cren-ças e valores, propiciando condições para a credibilidade do leitor; no segundo momento, surge o episódio do corpo fechado, principal experiência testemunhada pelo médico e que satisfaz sua curiosidade e expectativa em relação ao lugar. Destaca-se, também, a importância da magia para a transformação do protagonista em herói. Para o estudo desse encontro de visões distintas em torno da temática da magia serão abordados conceitos da teoria da narrativa, sobretudo de Gérard Genette (1995).
Este artigo analisa aspectos numerológicos e musicais em “Corpo fechado”,
Sagarana (1946), de João Guimarães Rosa. Sugere-se que o texto possa ter a sua fruição
ampliada por meio de outras metodologias e adensamento analítico. Elementos de
numerologia (conotações místicas dos números), teoria musical (alusão à forma sonata e à
estrutura da sinfonia clássica – Haydn, Mozart e Beethoven) e teoria literária comparada são as
ferramentas teóricas para essa leitura.