Este estudo objetiva demonstrar que o conto “A benfazeja”, de Guimarães Rosa, é
uma retomada do mito das “Erínias/Eumênides”, tal como este aparece registrado na trilogia
Oréstia, de Ésquilo. Adaptando o mito de acordo com a realidade do sertão, o escritor mineiro,
ao figurar sua protagonista (Mula-Marmela), dá vida a uma personagem que mantém na
essência as características peculiares das antigas titulares do panteão helênico.
O romance de Rosa, conforme apontam muitos estudiosos, concentra variadas possibilidades de leitura. Dentro dessa idéia cotejamos a hipótese de verificar alguns rastros do trágico no episódio do julgamento de Zé Bebelo. Nesse sentido, este trabalho propõe-se a fazer uma leitura comparativa entre o trecho citado do romance e a tragédia grega de Ésquilo, observando de que forma o julgamento de Orestes ecoa no tribunal do sertão montado por Guimarães Rosa.