Analisaremos neste artigo os contos “Bambo”, de Miguel Torga, e “O Porco e Seu Espírito”, de Guimarães Rosa. Procuramos demonstrar que a narrativa torguiana traz a representação de um animal, um sapo, como portador de conteúdos ignorados pelas personagens humanas da narrativa, sendo detentor de saberes, e, no caso do conto rosiano, explanar que o animal, um suíno, ser situado à margem do homem, pode representar signos que possibilitam uma identificação humana.
O presente trabalho busca estabelecer aproximações entre as obras do brasileiro Guimarães Rosa e do português Miguel Torga, ambos do século XX. A partir de estudos críticos, como as análises de Walnice Nogueira Galvão, Antonio Candido, Benedito Nunes, Massaud Moisés, Cid Seixas, entre outros, apresentam-se as noções de regionalismo e universalismo que perpassam as obras de ambos os ficcionistas. Através de uma análise intertextual dos contos "A menina de lá" e "O cavaquinho", analisar-se-ão como as personagens-crianças fazem parte de universos distintos de infância. Pretende-se, assim, estabelecer um cotejo entre os contos em questão, apresentando semelhanças e distinções neles presentes, no que tange aos temas e aos procedimentos utilizados.
A presente pesquisa apresenta como proposta uma análise comparativa de contos dos ficcionistas Guimarães Rosa e Miguel Torga, a partir da representação do animal humanizado em algumas narrativas. Através de levantamento bibliográfico, constatamos expressiva e singular representação de bichos na obra dos escritores referidos, que dialoga em momentos diversos. Interessa-nos, dessa forma, apurar de que maneira o animal dotado de características humanas está representado nas narrativas, bem como de que modo os autores mencionados abordam a relação entre o bicho, o homem e o mundo que os rodeia, que, no caso das obras dos autores citados, está situado, físico e emblematicamente, sobretudo, no meio rural. A nossa leitura privilegia as implicações da relação humano-animal em textos dos escritores aludidos, implicações que se baseiam, principalmente, em saberes alternativos, identificações e dicotomias. O corpus selecionado são os livros: Bichos, de Torga, e Ave, palavra, Estas estórias e Sagarana, de Guimarães Rosa. Cabe apontar, também, que tomamos como operadores de leitura a noção de antropomorfismo e o recurso da análise comparada.
O artigo lança um olhar sobre textos primorosos dos escritores Guimarães Rosa e Miguel Torga, dois dos maiores autores em Língua Portuguesa: os contos “A benfazeja” e “A Maria Lionça”, respectivamente. Nos dois textos, de uma sensibilidade e beleza peculiares, foram identificados os elementos que corroboraram para a construção de personagens femininas tão ricas e complexas, donas de uma força e generosidade que chegam a ser sobre humanas; a íntima relação que estabelecem com a paisagem, o local onde vivem – respectivamente o sertão brasileiro e a região de Trás-os-Montes, em Portugal –; e como os autores conseguiram tornar as duas narrativas, embora arraigadas aos costumes e experiências de suas terras natais, impregnadas de um profundo sentido universal.