Guimarães Rosa foi o escritor que, como poucos, soube explorar as potencialidades do olhar na experiência de seus personagens para que estes criassem, a partir daí, um universo simbólico para a renovação de si mesmos e do mundo que os cerca. O aprendizado do olhar em Rosa pode ser comparado com o processo em que o prisioneiro, na alegoria da caverna, liberta-se, e sucessivamente passa de um estado de ignorância, em que via apenas o ilusório e o aparente, para a visão das formas puras e inteligíveis. Platão compara o sol com a forma do Bem. Um texto do escritor mineiro ilustra esse aprendizado do olhar em paralelo com a visão platônica: a novela Campo geral. Nela, o personagem central é uma criança míope de oito anos que, num processo de descoberta do mundo, renova o seu olhar a cada momento, a exemplo do prisioneiro liberto da alegoria da caverna.
A novela “Uma estória de amor”, de Guimarães Rosa, pode ser interpretada como uma consideração filosófica sobre a existência e sua finitude, e sobre os trabalhos do amor, se comparada com O Banquete, de Platão, e sua teoria da natureza e qualidade de Eros. Vários críticos atestam as leituras de Platão por Rosa, e uma abordagem comparativa entre os dois textos revela o reflexo das ideias platônicas ficcionalizado ao longo da festa de Manuelzão, concorrendo para produzir um comovente relato da complexidade e contradições do amor entre o povo simples do sertão.
Examinam-se neste trabalho os elementos platônicos presentes no romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. São extratos intertextuais tomados especialmente aos diálogos Banquete e Fedro. Concedemos relevo, nessa análise,ao papel do amor e da dialética ascensional em meio à escrita fragmentária do romance, que impõe ao tema mudanças significativas, aproximando-o de uma experiência trágica.
Este ensaio pretende analisar as concepções de memória presentes no conto Nenhum, Nenhuma, de João Guimarães Rosa. Partimos da hipótese de que o escritor mineiro utilizou as ideias de Platão e Bergson na construção deste conto.
A proposta desta dissertação é estudar a rememoração na obra Primeiras estórias (1962), de
João Guimarães Rosa, tendo, como suporte teórico, a teoria da reminiscência de Platão. Para o
filósofo, a alma é imortal, pois sempre renasce em diferentes corpos. E quando uma pessoa
aprende algo ocorre uma rememoração, porque há apenas a recordação de um saber já
adquirido pela alma no mundo das ideias. Pretende-se, com base nessa teoria de Platão,
compreender os acontecimentos considerados misteriosos nas estórias rosianas, por se
distanciarem da lógica tradicional, e os comportamentos enigmáticos dos personagens. Por
serem muitas as narrativas que compõem o livro Primeiras estórias, restringiu-se o corpus a
sete contos: “A terceira margem do rio”, “A menina de lá”, “Sorôco, sua mãe, sua filha”,
“Nenhum, nenhuma”, “Um moço muito branco”, “As margens da alegria” e “Os cimos”.