O Modernismo brasileiro trouxe um interesse ainda mais claro da literatura pela realidade social do país, e fez isso através da inclusão definitiva das classes marginais no tema artístico. Associado à intensa necessidade de reinventar a forma e explorar a linguagem, esse conteúdo tornou-se decisivo para a consolidação de uma literatura autenticamente brasileira, pois um dos comportamentos fundamentais da arte realista é exatamente o não distanciamento do autor do mundo que o cerca. Foi sobre as bases lançadas pelo Modernismo e através de uma profunda discussão dos problemas sociais do país, que autores como João Cabral de Melo Neto e Guimarães Rosa puderam desenvolveruma literatura de alcance estético elevado. Nessa análise, veremos em que medida os dois autoresaproximam-se e em que medida distanciam-se em sua forma de abordar essa realidade.
As situações práticas de comunicação envolvem, em geral, a atuação simultânea de símbolos, índices e ícones. A semiose de um texto literário não é diferente, o que torna praticamente impossível isolarmos um texto puramente simbólico, indexical ou icônico. Podemos, todavia, identificar contextos em que um desses modos de representar sobressai aos demais, tornando-se determinante para a compreensão dos efeitos expressivos que o texto busca ressaltar. O objetivo deste artigo é descrever situações de leitura nas quais a ênfase em cada uma dessas três formas de representação determina a apreensão de sentidos específicos nos poemas e narrativas examinados. Com essa finalidade, valemo-nos do aporte teórico proveniente da Teoria Geral dos Signos, cuja base é o pensamento do filósofo norte-americano Charles Sanders Peirce, do qual destacamos a segunda tricotomia dos signos, centrada nas relações possíveis entre as representações e seus objetos. Os conceitos são retomados inicialmente em seu sentido teórico geral para, em seguida, serem aplicados ao contexto específico da linguagem literária, a partir de comentários sobre poemas e narrativas de autores representativos da literatura brasileira, como Manuel Bandeira, João Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, entre outros. Mais do que traçar um esquema de classificações, as leituras propostas pretendem demonstrar como a apreensão dos componentes simbólicos, indexicais e icônicos presentes nos textos examinados implicam diferentes estratégias de cognição do fenômeno literário.
Este artigo objetiva discutir o percurso do modo como o sertanejo é apresentado em obras literárias brasileiras a partir do Romantismo, primeiro estilo em que aparece como personagem, até a intensa liberdade das Tendências Contemporâneas. Fundamentado em discussões sobre sertanismo e regionalismo com Albuquerque Júnior (2011), Almeida (1999), Castro (1984) e Freyre (1976), este trabalho se direciona para um olhar de como o sertão/sertanejo se insere numa “caminho” trilhado dentro da produção literária no trajeto das épocas mencionadas. Deste modo, com o estudo empreendido, entende-se que o sertanejo mítico e depois realista dos oitocentos, modifica-se no forte lutador diante da seca e das injustiças sociais no século XX, utilizando-se da sua força, resistência e bom-humor que lhe são característicos, encarando as árduas sagas com seus únicos recursos, os impalpáveis.
Esta tese estabelece diálogos entre o discurso artístico-literário dos escritores-diplomatas João Cabral de Melo Neto, João Guimarães Rosa e Vinicius de Moraes e o discurso das modernidades tardias no Brasil. Os textos analisados, publicados em meados do século XX, voltam-se para espaços periféricos, a que denominamos 'sertão' - áreas excluídas do projeto de modernização do país - e para o homem comum, seu saber, sua inventividade, seu comportamento nem sempre redutíveis aos dispositivos de enquadramento social. Neste trabalho, a escrita diplomática, de caráter oficial, torna-se escritura: discurso permeado pelo pensamento transdisciplinar, pela imaginação estética e pelo cuidado ético. A análise comparada de autores com propostas artísticas e conceituais tão diferentes propicia o surgimento de sentidos pouco evidentes nas obras.
Pesquisas em acervos onde se encontram textos produzidos por João Cabral de
Melo Neto e João Guimarães Rosa revelam a existência de importantes
articulações entre o posicionamento dos escritores-diplomatas em relação aos
parâmetros técnico-científicos da modernidade hegemônica. Os autores
questionam o empreendimento moderno, no que tange à mecanização
racionalista do mundo, à destruição da natureza e à visão do humano como
“homemmáquina”. Estudos em arquivos literários contribuem para uma maior
percepção a respeito do lugar ocupado pelo poeta e pelo escritor na
configuração da paisagem intelectual de meados do século XX. Ofícios,
diários, cartas, entrevistas encontrados em acervos revelam interseções entre o
caráter estético e ético da escritura e alargam a noção do objeto literário. O
homem comum mostra-se capaz de desestabilizar dispositivos do controle e de
propor espaços mais libertos de existência.
Quando foi inaugurada, a cidade de Brasília visava a marcar um espaço de convergência do Brasil em torno de um ponto situado em seu interior. A cidade, ícone maior do projeto desenvolvimentista de JK, trazia a imagem do arrojo técnico, da vanguarda, do progresso brasileiro. Acreditamos ser próprio do trabalho intelectual trazer à discussão elementos que tornam o espaço não tão tranquilizador. João Cabral de Melo Neto e João Guimarães Rosa registraram impressões relativas à nova capital federal. Suas criações contribuem para questionar, a partir de imagens heterotópicas, valores relativos ao mito unidade nacional. Por outro lado, os autores apostam na modernidade, sobretudo estética,
como modo de superar estruturas arcaicas.