This essay examines the dialogue established between Vilém Flusser and João Guimarães Rosa around the conception of language as the creator of reality. In this text, we discuss elements of this dialogue, We consider how the two authors understand language and how this understanding appears expressed in their works, based on essays and testimonies given by both. In this relationship between these two authors and friends, the works’ interrelation is given from the Flusser’s point of view, in his account of the profound impact of Guimarães Rosa’s literature on Flusser, who wrote several essays on it, and in seeing the experience of his own ideas about the language in Rosa’s work.
Vilém Flusser wrote about the Brazilian modernist author João Guimarães Rosa (1908-1967) who he met personally. Although most of Guimarães Rosa’s work had been written before their meeting, Flusser’s thinking might have influenced his writing. In 1961, Guimarães Rosa published the short story Fita verde no cabelo and Flusser wrote an article about it. Both texts were published the same year in the Literary Supplement of O Estado de São Paulo. The essay focuses on questions of style as well as on the cultural and etymological references of the two writers.
Os diálogos entre Vilém Flusser e Guimarães Rosa na década de 1960 fizeram com que o primeiro partisse de sua ontologia para pensar a obra do segundo, visto que o filósofo compreendia a obra de Rosa como uma espécie de exemplificação de suas teorias. Assim, mostrarei como Flusser desenvolve sua ontologia, como pensa a literatura e como isso se dá na obra roseana.
A partir das ideias de Oswald de Andrade sobre antropofagia (Manifesto Antropófago, 1928), que rivalizando com o bom selvagem de Rousseau revitaliza a noção do canibal insubmisso, irreverente e zombeteiro, se inaugura na tradição brasileira artística e acadêmica a noção de devoração do outro como metáfora epistemológica da tradução entre culturas. Tradução antropofágica ou antropofagia tradutória como encontro, experiência de alteridade, mas também como devoração criativa – algumas vezes debochada – mas, sobretudo, como transculturação. Experimentos lingüísticos, literários e ensaios de cunho teórico fazem eco a estas ideias. Este artigo debruça-se sobre o pensamento do escritor João Guimarães Rosa, do filósofo e ensaísta tcheco Vilém Flusser e do poeta e tradutor Haroldo de Campos, sublinhando as suas intercessões e também as suas singularidades, a respeito da linguagem e dos processos tradutores.
Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários
O que se propõe neste estudo é investigar os procedimentos que em uma obra literária levam ao efeito de ―Fora na linguagem‖. O que é esse Fora? Que gama de efeitos produz? Quais os procedimentos para fazê-lo existir em uma obra de arte, na literatura em particular? Eis algumas das questões que nos interessam.
Para desenvolver tal procura em busca do Fora, utilizaremos como suporte e corpus teórico autores que seguiram a trilha do Fora na linguagem, tais como Roland Barthes, Maurice Blanchot, Gilles Deleuze, Pierre-Félix Guattari, Tatiana Salem Levy, dentre outros. Será a partir de cinco obras previamente selecionadas que exploraremos alguns dos procedimentos que levam ao Fora, assim como seu conceito aplicado à literatura: ― A Terceira Margem do Rio e ― Meu Tio Iauaretê, de Guimarães Rosa; Mar Paraguayo, de Wilson Bueno; Bodenlos: uma autobiografia filosófica, de Vilém Flusser e Bartleby, o escrivão, Herman Melville. Nosso objetivo não será analisar tais obras, mas, a partir delas, observar alguns dos procedimentos que levam ao Fora. Portanto, tomaremos delas apenas os recortes necessários.
Falaremos do que força o pensamento a pensar, do que antecede o pensar. Falaremos do Fora e do plano de imanência; dos corpos sem órgãos; dos devires moleculares e molares. Falaremos de linhas; pontos, encontros, fugas; máquinas; superfície de registro; produção, processo; fluxos e rupturas. Falaremos de limiares; entremeios; gradientes; fragmentações; linhas e margens que se desmancham, desdobram, invaginam, explodem; intensidades e potências; territorialização e desterritorialização.