Como uma das possibilidades de escapar da execução de um possível contrato feito nas Veredas Mortas com o Diabo, o narrador-protagonista de Grande sertão: veredas conta sua longa estória ao seu compadre Quelemém e a um senhor da cidade. A esse último, Riobaldo força a narrativa, impõe seu julgamento, obriga os fatos, e faz dela remissão da sua vida. Essa narrativa – que se volta e se move sob si mesma, que transita de uma margem à outra, que parte e remonta o viver de seu narrador e personagem – é uma das possibilidades de salvação do pacto e da (não) existência do Diabo. Porquanto ela é constituída a partir da simulação, do fingimento e do logro, bem como marcada entre o indizível e o dizível. Assim, esse artigo analisa a narrativa mefistofélica de Riobaldo – um
narrador que conduz a estória ao figurar uma imagem do Diabo, ao crer no seu existir, ao pronunciar seu nome e aceitar seu ser. Contudo essa narrativa mefistofélica vulgariza a presença do Diabo, constrói a dúvida, questiona
No Urubuquaquá, no Pinhém (1964), de João Guimarães Rosa (1908-1967), é composta de três narrativas:
"Cara-de-Bronze", "O recado do morro" e "A estória de Lélio e Lina". Esta última novela será o objeto de análise do presente trabalho. Centrada no protagonista Lélio de Higino, vaqueiro recém-chegado à fazenda do Pinhém para trabalhar na fazenda de seo Senclér, a trama é marcada por diversas temáticas que se circunscrevem no sertão, entre as quais se destacam o amor (NUNES, 1964), fonte de inquietação para a maioria das personagens e pelo erotismo como forma de supressão daquilo que se gostaria de ter. O último tópico mencionado será o ponto central de análise da novela em questão. Com base na Estética da recepção de H. R. Jauss (1921-1997) quanto à experiência estética do leitor diante do texto literário e nas concepções de Georges Bataille (1897-1962) acerca do erotismo, que se fundamenta na ideia de uma ruptura de fronteiras, em outras palavras, numa transgressão dos limites estabel
Considerando que na cultura patriarcal a "voz" da mulher é, de certa maneira, apagada, este estudo
pretende mostrar, na narrativa de Guimarães Rosa, a voz das personagens femininas, que configuram uma espécie de desarticulação quanto ao patriarcado. Centrando a análise em Jini e nas "tias" Conceição e Tomázia, retrataremos o poder simbólico exercido por essas mulheres, que não mais se submetem ao mando masculino e executam a ação em "A estória de Lélio e Lina". Dessa maneira, o autor pretende dar visibilidade às mulheres excluídas do discurso histórico oficial presente no ambiente sertanejo, alterando a representação comum deste espaço. Segundo Deise Lima, em Encenações do Brasil Rural em Guimarães Rosa (2001), há, na trama rosiana, o espaço de uma fazenda de pecuária do Pinhém, em que o cotidiano se movimenta por meio de uma dialética entre os desejos e frustrações dos vaqueiros, que acabam por buscar na casa das tias, e, no caso de Lélio, também em Jini, uma forma de se evadirem dos
A abordagem do trabalho será uma interpretação existencialista da crônica "O mau humor de Wotan" presente na obra Ave, palavra (1970) de João Guimarães Rosa (1908-1967). A análise existencialista será feita com base no livro o Ser e o nada (1943/2007), de Jean-Paul Sartre. Tratar-se, no texto, de abordar as condutas de má-fé [mauvaise foi] e de liberdade [liberté] do casal Hans-Helmut Heubel e Márion Madsen e do Narrador (Guimarães Rosa ficcionado) no contexto de guerra com base na analise desses personagens serão expostas as imagens literárias que clarificam as noções de má-fé e
liberdade na consciência, que é o conceito de homem do filosofo francês, embora, cada um dos personagens em questão tenha um diferente posicionamento sobre o nazismo, como Hans-Helmut, que representa o cidadão alemão que reconhece as atrocidades do nacional socialismo, mas não quer a derrota de seu país; Márion, que se dispõe a agir com prudência aderindo às normas do partido alemão e o Narrador que se coloca
Esta comunicação visa determinar em que medida a tradução americana de Grande sertão: veredas (1956) se corresponde com o projeto de João Guimarães Rosa, o que a recepção crítica discutia, e, ainda comenta sobre a obra americana. Observar-se-á na execução dessa comunicação que a importância da recepção estética de determinada obra, nota-se que o leitor é aquele que se guia por um comportamento estético, por exemplo, estuda-se em Grande sertão: veredas (1956) que foi conhecida como The devil to pay in the backlands (1963) probabilidades da tradução americana não incorporar o projeto poético rosiano, de maneira que se propõe investigar tais fatores da tradução, bem como a
contribuir para o escopo de trabalhos com viés estético recepcionais ao encontrarmos as leituras críticas da época quanto à versão americana. Guimarães Rosa mencionava que a tradução para o inglês americano de Grande sertão: veredas não deveria ser um "lugarcomum", e que os tradutores teriam uma tarefa de recriar a lin