Última narrativa de uma sequência de sete novelas de Corpo de Baile, “Buriti”
encerra o ciclo rosiano, resgatando no protagonista Miguel o menino Miguilim, de “Campo
Geral”. O que motivaria Guimarães Rosa a empreender a travessia das sete narrativas,
quando decide abrir e fechar o conjunto Corpo de Baile com o mesmo herói? Na tentativa de
responder ao mistério da personagem principal, o presente trabalho detecta na ocorrência do
léxico erro em ambas as histórias um índice hermenêutico: se, quando criança, Miguilim omite
o bilhete do Tio à Mãe; adulto, Miguel se cala ao conhecer Maria da Glória, como salienta Luiz
Costa Lima: “A fala que se trocam é a fala das reticências, da palavra pouco explicitada”.
Segundo a tradição hesiódica, o deus Eros “doma no peito o espírito e a prudente vontade”.
Solidária à angústia amorosa, outra personagem feminina é convocada - Leandra. Sob o
patrocínio da virilidade na etimologia do nome, a estrangeira acusará a obsolescência de um
patriarcado que exige fertilização. Será Diotima, a sacerdotisa que legou a Sócrates a função
e o sentido de Eros, quem mais se fará presente nas reflexões de Leandra. Na medida em
que atualiza o diálogo platônico, O Banquete, Guimarães Rosa reverte o erro de MiguilimMiguel:de
uma inicial hýbris à cara noção de eudaimonia. Porém, mais do que desfazer um
conflito outrora trágico, o autor esboça em “Buriti” uma teoria da vontade humana solidária à
divindade que preside o desejo erótico.
Este artigo propõe uma análise descritiva dos processos mentais mais recorrentes
na obra Grande Sertão: Veredas (1994) de João Guimarães Rosa, com base nos
pressupostos da Linguística de Corpus e Sistêmico-Funcional. Para tanto, fundamentou-se
teoricamente em Perini (2008) para a discussão acerca da Gramática descritiva; em Halliday
e Matthiessen (2014) sobre a Gramática sistêmico-Funcional; e em Berber Sardinha (2004,
2009) a respeito da Linguística de Corpus. Os procedimentos da análise envolvem não só um
estudo do estrato léxico-gramatical dos itens em questão, como também do estrato semântico,
o que propicia uma compreensão mais abrangente dos fenômenos estudados. Os resultados
deste estudo ressaltam a importância de se considerar os elementos linguísticos como parte
preponderante da história e da cultura de um povo, bem como a relevância de se evidenciar
a considerável contribuição que a Linguística de Corpus tem trazido para os estudos
linguísticos (especialmente, com corpus literário) no Brasil.