A presente análise visa mostrar que o anônimo narrador do conto “Se eu seria personagem” – presente no volume Tutaméia (Terceiras Estórias) (1967), de João Guimarães Rosa – é um ser duplamente duplo. O amigo Titolívio Sérvulo e a amada Orlanda são as suas faces complementares. Com o primeiro, forma uma dupla de íntimos e rivais. Titolívio é o outro que realiza suas aspirações mais profundas. No que se refere à Orlanda, esta é a metade feminina que lhe falta e pela qual busca ansiosamente. Com ela forma a polaridade necessária à realização do amor.
Entre as estórias de Guimarães Rosa há elos surpreendentes que se trançam de modo esquivo. Temas, ideias, tramas, imagens retornam num procedimento de orquestração que esboça uma musicalidade partitural e delineia uma simbólica rosiana. Em seu universo poético, duas linhas de força que se impõem e solidamente se vinculam são o Amor e a Saudade. Num traçado complexo e cheio de dobras (=pli), Eros atravessa o sertão de Rosa, promovendo ligações, separações e reencontros que desafiam a lógica do espaço-tempo. Neste trabalho, detenho-me na interpretação minuciosa de duas estórias de Tutaméia: Arroio-das-Antas e Se eu seria personagem. Entre elas procuro desvelar reveladoras intersecções e a partir delas teço conexões com diversas outras passagens da obra de Rosa.
A arte de Guimarães Rosa faz-se a partir da ?situação narrativa?, definida por Gerard Genette como um dos aspectos do texto narrativo cujos dois protago- nistas são o narrador e o narratário. O narratário é um destinatário imediato do discurso do narrador que interfere no texto de forma, ora mais, ora menos, explícita. Empregando a terminologia de Genette, buscamos realizar uma leitura do conto ?Se eu seria personagem? a fim de perceber qual é a função reservada ao narratário dentro da situação narrativa.
O presente trabalho se propõe a interpretar a estória “Se eu seria personagem”, parte
integrante de Tutameia. Terceiras estórias, último livro organizado e publicado por Guimarães
Rosa. A estória é bastante complexa, tanto do ponto de vista do expediente narrativo adotado
quanto da perspectiva da temática de que lança mão e se empenha em investigar. A interpretação
proposta procura não só extrair as implicações poético-filosóficas da estranha afirmação que
abre a estória (e dá título ao nosso ensaio), como também depreender a trama amorosa que nela
se arquiteta, na qual repercutem lances de várias outras estórias rosianas.
O presente artigo pretende discutir a relação de Guimarães Rosa com a História. Através de estudos genéticos conduzidos graças a declarações pessoais, cartas, marginalia e, principalmente, estudos para a obra, buscou-se compreender quais autores embasaram a construção de sua ficção. Para atingir esse objetivo, foi essencial acessar, in loco, o acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP), onde encontram-se os manuscritos do autor, bem como os livros que constavam em sua biblioteca quando faleceu. Conhecido como um escritor pouco engajado e associado frequentemente a espectros políticos de direita, Guimarães Rosa afirmou, frequentemente, ser “contra a História”. Por este motivo, procurou-se, aqui, perscrutar essa suposta “cultura anti-histórica” rosiana. A partir do estudo do conto “Se eu seria Personagem”, publicado no livro “Tutaméia”, conclui-se que, em sua tentativa de “fugir do tempo”, Rosa contou com a parceria de filósofos e historiadores antigos, mas, principalmente, com autores religiosos – tanto ocidentais quanto orientais – que defendem as ideias de “destino”; “providência divina” ou “wu-wei”.
Instituto de Psicologia, Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a universalidade do tema da ambivalência ao analisar sob a ótica da psicanálise personagens de alguns contos de Guimarães Rosa. Dois livros da obra de Guimarães Rosa foram analisados: Primeiras Estórias e Tutaméia. Destes, quatro contos foram selecionados para interpretação: Desenredo, Se Eu Seria Personagem, Os Cismos e A Terceira Margem do Rio. Buscou-se apontar o conceito de ambivalência da psicanálise, como sintoma e como fator constituinte do psiquismo. Foi proposta uma reflexão acerca da relação entre psicanálise e literatura. Apontamos temas fundamentais da técnica e da teoria psicanalítica, como luto, transitoriedade e fantasia. Compreendemos como a ambivalência se apresenta nos personagens dos contos selecionados. A metodologia aplicada foi o uso do método psicanalítico para a interpretação de textos, no qual o psicanalista se coloca em uma leitura flutuante, atento às perturbações que a escrita provoca no leitor. Estudos e teorizações da psicanálise freudiana, kleiniana e winnicottiana, e de psicanalistas contemporâneos trouxeram aportes para o estudo da ambivalência e de outras temáticas importantes na análise dos contos. Conclui-se que os personagens dos contos de Guimarães Rosa conseguem retratar esta dinâmica interna do sujeito: ambivalência e constituição psíquica, o que possibilita a universalização da temática e a abertura de novas discussões, por se tratar de uma questão essencial da constituição do sujeito. A compreensão desse sujeito no mundo possibilita novas formas de ajuda a esse sujeito, que é o que fundamentalmente a psicanálise busca: entendimento, possibilidades de elaboração, modificação dos sofrimentos e sintomas.
O presente trabalho tem por objetivo geral efetuar leitura analítica de sete contos de João Guimarães Rosa, presentes em sua última obra publicada em vida: Tutaméia -- terceiras estórias. Dentre as quarenta "estórias" do livro, elegeram-se as seguintes: "Antiperipléia", "Curtamão", "Êsses Lopes", "Rebimba, o bom", "Se eu seria personagem", "Tapiiraiauara" e "- Uai, eu", que possuem em comum, além da estrutura concisa, a presença de narradores autodiegéticos. Esta categoria, criada por Gérard Genette, diz respeito ao tipo de narrador que participou da história que conta, como protagonista. Para dar conta do artefato teórico foi escolhido como principal obra de apoio O discurso da narrativa, de autoria de Genette. O trabalho visa contribuir com os estudos acerca da obra contística de Guimarães Rosa, com destaque para a figura do narrador.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Tutaméia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa, é uma obra que desestrutura o leitor. Os elementos que a tornam labiríntica são múltiplos: dois índices, dois títulos, ordenação alfabética dos contos, anagramas, epígrafes, glossário, quatro prefácios, ilustrações de capa e ilustrações ao final de cada estória. A tese que se propõe defender nesta pesquisa dá conta de decifrar parte de um de seus enigmas. Curiosamente, o livro possui quatro prefácios distribuídos de entremeio aos contos. A nosso ver, desempenhando função específica planejada pelo ficcionista, tais textos estariam a serviço de “prefaciar” os correspondentes contos que antecipam. Através da análise dos onze contos que seguem o terceiro prefácio, “Nós, os temulentos”, o presente estudo objetiva evidenciar esta intenção do escritor. Em “Nós, os temulentos”, Guimarães Rosa explora, pela via do humor, a visão “diplópica” de “Chico, o herói”, propiciada pela embriaguez. Por meio da imagem deste temulento e de seus dualismos, o autor parece oferecer a chave temática do grupo de estórias que segue o referido prefácio. Acreditamos que a grande constante ou a coluna dorsal de tais contos é o tema do duplo. O primeiro passo a ser dado para provar esta tese inicia já na introdução do trabalho. Nesta parte, são detalhados os pormenores da peculiar estrutura de Tutaméia (Terceiras Estórias) e tecidas algumas considerações acerca dos quatro prefácios que a compõem. Em seguida, conforme antecipa o título do primeiro capítulo, é realizado “um périplo pelo território do duplo”, assunto de abrangência bastante considerável. Por último, são realizadas as análises dos contos “O outro ou o outro”, “Orientação”, “Os três homens e o boi dos três homens que inventaram um boi”, “Palhaço da boca verde”, “Presepe”, “Quadrinho de estória”, “Rebimba, o bom”, “Retrato de cavalo”, “Ripuária”, “Se eu seria personagem” e “Sinhá secada”.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras
Nosso trabalho trata da análise de alguns contos da obra Tutaméia (Terceiras Estórias) de João Guimarães Rosa, com vistas à figura do narratário. Para tanto, procuramos mostrar a importância desta categoria da narrativa que pouca atenção recebeu até hoje por parte da crítica literária e que, fazendo-se presente de forma, às vezes mais, às vezes menos, explícita, no texto, interfere significativamente na construção do discurso do narrador. A relação de comunicação entre narrador e narratário situa-se no nível do enunciado do texto. Assim, buscamos também reconstruir uma outra relação de comunicação que se situa no nível da enunciação, que é a de enunciador e enunciatário, mostrando sempre o papel ativo que se reserva a este último, o qual se constitui num co-autor do texto. Nossa pesquisa discute ainda como, na obra em questão, o diálogo entre narrador e narratário pode conduzir o leitor ao nível da enunciação, onde é possível entrever questões relativas ao próprio ato de narrar, bem como sobre o processo de criação da ficção narrativa e, em alguns contos, da criação artística de modo mais geral. São seis os contos selecionados para análise, tendo como critério de escolha a presença do narratário mencionada no discurso do narrador: “Antiperipléia”, “- Uai, eu?”, “Curtamão”, “Desenredo”, “Se eu seria personagem” e “Reminisção”. Para o desenvolvimento deste trabalho, o referencial teórico principal é a terminologia de Gerard Genette sobre a narrativa, de Gerald Prince sobre o narratário e o conceito de dialogismo de Mikhail Bakhtin, sendo que este último nos auxilia na análise da relação de comunicação entre enunciador e enunciatário.
Esta dissertação tem como objetivo analisar a obra Tutameia (Terceiras Estórias), de João Guimarães Rosa, a partir das questões da linguagem que giram em torno da escritura literária, relação na qual será pensado o tripé que geralmente ronda a literatura: obra, mundo e autor. O estudo acha-se delineado a partir de três segmentos, o primeiro compreende uma abordagem do espaço literário na concepção de autores como Agamben, Battaile, Blanchot, Heidegger, entre outros; o segundo debruça-se nos quatro prefácios de Tutameia,visualizados como pontes do silêncio que levam em direção ao rio: o pensar se dissolvendo em estórias, peripécias de um fragmento; o terceiro é um convite ao mergulho na escrita rosiana. Para tanto, foram selecionados os seguintes contos: Antiperipleia e Se eu seria personagem. A proposta do estudo, em linhas gerais, é um pensar sobre a literatura, a in-útil no mundo, o fantasma de morte que, impossibilitado de morrer, vem ao homem por ruídos, o eterno jogo de apreensão de um vazio que escapa entre os dedos: condição para o poeta.
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