De maio de 1965 a julho de 1967, Guimarães Rosa publicou pequenos contos no jornal médico Pulso, do Rio de Janeiro: editado pelo laboratório de Sidney Ross; dirigido pelo doutor Roberto de Souza Coelho, que circulou entre médicos do Brasil inteiro. O autor mineiro enviou 56 contos para o Pulso, dos quais 44 foram republicados, com algumas modificações, em sua derradeira obra Tutaméia (1967). A inovadora publicação, possui quatro prefácios, e “Sobre a Escova e a Dúvida” é o derradeiro destes, este texto foi publicado primeiramente no jornal Pulso em 15 de maio de 1965. O persente trabalho tem como escopo fazer uma leitura hermenêutica da problematização referente à criação literária apresentada pelo autor mineiro no referido texto, ressaltar-se-á neste Prefácio, o fazer literário rosiano, observando nele, sua visão poética da realidade. Neste texto, como afirma, (SIMÕES, 1988) “chega-se ao ponto central da poética do autor: a função da literatura.”. Neste diapasão, entende-se que este prefácio pode ser o ponto de partida para as indagações do autor em torno da literatura. Assim, esta obra enigmática precisa ser estudada em seu diálogo metalinguístico sobre a expressão literária como um plano metafísico que rompe com os planos da lógica. Como referencial teórico para esta análise utilizaremos (ANDRADE, 2004), (COVIZZI, 1978), (NOVIS, 1989).
Este texto tem como finalidade a apresentação de uma proposta do que seriam os mecanismos criadores da obra de Guimarães Rosa. Para tanto, focaliza o conteúdo de dois prefácios do livro Tutaméia, pondo em dúvida a sinceridade do que está no "Sobre a escova e a dúvida" mas considerando as colocações de "Aletria e hermenêutica" como preciosas formulações sobre o processo da criação poética.
Tomando a figuração-representação do escritor em um dos prefácios de Tutaméia, busca-se problematizar os fluxos envolvidos na criação artística, considerando não apenas a interioridade ou exterioridade dos mesmos, como também a sua natureza ordinária ou extraordinária. Busca-se, então, estabelecer um diálogo entre tais dimensões, o conceito de porosidade poética e a perspectiva fenomenológica de Merleau- Ponty, com vistas ao desvendamento do lugar do escritor, tal como figurado na obra rosiana.
O presente trabalho constitui uma investigação dos quatro prefácios de Tutaméia: Aletria e hermenêutica, Hipotrélico, Nós, os temulentos e Sobre a escova e a dúvida. Os textos que aparecem no primeiro índice e no corpo do texto mesclados às outras estórias, em um segundo índice, são separados sob a indicação de prefácios. Sob disfarces de ficção, os prefácios teorizam e ilustram o fazer literário. Buscar a reflexão teórica diluída ao longo dos prefácios institui-se como o objetivo da investigação aqui proposta.
A verificação da constituição do livro como objeto requer estudos sobre a história da composição do livro como tal. Até estruturar-se da maneira como o conhecemos o livro passa por diversas etapas em sua dimenão material, dentre elas: os paratextos, a parte pré textual, organizacional de uma publicação. Conhecer os detalhes dessa estrutura editorial contribui para a organização e a leitura de uma obra. No entanto, há autores que usam da transgressão da norma para buscar o espírito artístico. Os prefácios da obra Tutameia de João Guimarães Rosa suscitam a questão essencial deste trabalho: a transgressão do autor os torna os prefácios da obra textos ou paratextos? A trajetória para a efetiva publicação da obra mostra o quão criterioso o autor foi na sua revisão editorial e quão importante é para o leitor entender esse processo.
Esta pesquisa busca compreender como a arte rosiana possibilita efeito que dinamize experiências de emancipação no leitor e na cultura. Trata-se de observar como a linguagem de três prototípicos textos da obra Tutaméia (1967) – perpassada pelas forças da ironia, do paradoxo e da poiésis, outrossim elaborada no vigor da experiência da Transcendência – põe-se como temática da libertação que engendra dialógica ascensional capaz de fazer a leitura dispor-se para vivência que supera o peso da temporalidade, ou seja, para o advento da Graça.
Muitas vezes o leitor das narrativas de Guimarães Rosa depara-se com um narrador ou personagem que podem ser lidos como uma figuração do escritor graças à associação entre aspectos textuais (temas, personagens, narradores) e informações acerca do autor. A identificação ocorre também pelo ajuste do texto ao repertório de imagens e posturas autorais que dialogam com as escolhas da obra lida repertório também acessado pelo escritor para a construção de sua figura autoral. Esta tese discute como o escritor criou figurações autorais, procurando entender a dinâmica de vinculação entre presença autoral e campo literário, além da construção da autorrepresentação em enunciações públicas (entrevistas e depoimentos) e privadas (diários e outros manuscritos), nas quais se observa o escritor produzindo figurações de si e afirmando posturas que sugerem um modo de interpretação de seus textos. Quanto às narrativas rosianas, a análise concentra-se em textos divulgados em periódicos e posteriormente reunidos em Tutaméia Terceiras Estórias (1967), Estas Estórias (1969) e Ave, Palavra (1970).
Este trabalho pretende sugerir mais uma leitura sobre “A escova e a dúvida”, um dos quatro prefácios de Tutameia - obra de Guimarães Rosa que apresenta uma maturidade e um hermetismo próprios das geniais e astuciosas armadilhas com os quais o escritor-sertanejo instiga seus leitores. Com esse olhar, pode-se observar uma nova perspectiva sobre o fazer literário, baseada em uma relação de reconhecimento, interlocução e aceitação de inúmeros componentes ideológicos e interdisciplinares, que se conjugam e se complementam para a formação de discursos dialógicos e plurais. Estes, por sua vez, acabam se tornando elementos significativos para o reconhecimento de um novo e ousado expediente literário, a conjugar a invenção e a opacidade como interlocutores de um projeto de sensibilidade ímpar, moderno e contemporâneo. Nesse sentido, espera-se argumentar que tal projeto, expresso em parte no citado texto, abdica dos princípios canônicos e tradicionalmente aceitos como esteticamente válidos para
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