A sedução, no conto “Luas de mel”, manifesta-se, num primeiro momento, entre
enunciador e enunciatário a partir do discurso em primeira pessoa, que cria um efeito de
aproximação, deixando fluir uma relação de cumplicidade entre eles. Concretiza-se, mais
tarde, no nível discursivo, nas referências delicadas e reticentes do enunciador à sua mulher. Tais expressões de carinho velado vão crescendo em intimidade à medida que o fazendeiro
deixa-se envolver pelo clima que instaurado na fazenda com os preparativos para o casamento.
Pretende-se, portanto, analisar os níveis de sedução que se revelam no conto, tendo como
apoio o modelo semiótico greimasiano.
O termo “masculinidade tóxica” está em voga, contudo, na literatura brasileira, na década de 60 já era possível encontrar personagens que questionavam esse perfil masculino pautado na força bruta, na agressividade e na não demonstração de sentimentos de carinho e afeto. Desse modo, neste trabalho, faremos um percurso analítico acerca de alguns dos personagens criados por João Guimarães Rosa, em Primeiras estórias, mais especificamente nos contos: Famigerado; A benfazeja; Os irmãos Dagobé; Luas-de-mel e Substância, a fim de constatar como esse autor mineiro já traçava um delicado e, ao mesmo tempo, profundo questionamento sobre a figura do homem em sociedade e desse perfil de masculinidade. Assim, percebe-se que vários personagens já nos forneciam indicativos de uma masculinidade plural, como a defendida em nossa época, ou seja, que busca se afastar de modelos estáticos, pré-concebidos e estereotipados. O que, por sua vez, indica que essas narrativas proporcionam reflexões quanto a percepção e evolução da compreensão da masculinidade em nossa sociedade.
Considerando a riqueza com que Guimarães Rosa constrói as 21 narrativas que
compõem Primeiras Estórias será analisada neste artigo uma específica, Luas-de-mel, conto
narrado em primeira pessoa pelo fazendeiro Joaquim Norberto que, entre tantas outras temáticas,
traz em seu enredo uma recorrente nos opulentos meandros da ficção rosiana: o amor. Entre
outros aspectos que serão explorados na análise que segue, o amor, tema que ocupa um lugar
privilegiado na obra de Guimarães Rosa, será desvelado dentro desta leitura através da
transmutação que sofre no decorrer do conto e dos aspectos que o relaciona e assemelha aos
moldes do amor na época medieval.
A ambigüidade é assunto recorrente em obras de escritores latino-americanos. Em Guimarães Rosa, a temática se evidencia no conto Luas-de-Mel, uma das epifanias presentes em Primeiras Estórias. Nesse conto, Rosa consegue tratar de assuntos e de idéias que são considerados opostos como: amor /guerra, brigas /casamento, jagunços / feminilidade. As personagens de Luas-de-mel se constroem e se identificam pela oposição, ou seja, só se estabelecem com presença da contrariedade; elas são a travessia, a terceira-margem.
Faculdade de Letras, Departamento de Letras Vernáculas
Este estudo apresenta algumas reflexões sobre o amor, em três estórias de Guimarães Rosa - "Substância", "Dão-Lalalão" e "Luas-de-mel". Ao mesmo tempo em que mantêm a sua autonomia, há uma profunda intedependência entre elas. Dentro de um universo de diferenças, cada uma se explica junto às outras. Essa integração corresponde a uma vertente do projeto de amor rosiano - manter a diversidade na unidade. A leitura proposta observa que o amor propicia transformações existenciais que ocorrem durante profunda viagem à interioridade dos personagens. Esse processo de metamorfose acontece diante de um tempo descontínuo, porém, circular. Nesse movimento, a natureza se une às mudanças dos personagens e se torna epifânica. Essas estórias mostram que Eros ultrapassa a visão dicotomizada e excludente entre lógico ou alógico, corpo ou alma. Elas propõem o amor envolvendo corpo e alma, razão e desrazão. Nelas, o amor se concretiza na transcendência e permite que o ser esteja em constante movimento de inaugurar a vida a cada instante, se descobrindo e descobrindo o novo e colocando-se por inteiro na aventura do viver.
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