Este ensaio pretende observar como a literatura oral, tão discriminada por muitos críticos, pode figurar como um antídoto para o estado anestésico das sociedades modernas. Para tanto, partiremos de um breve resgate teórico que destaca os trabalhos de Benjamin, Ong, Barrento e Lima, por exemplo, e que nos conduz à novela “Uma estória de amor”, de Guimarães Rosa. Nesse texto, a oralidade é apresentada como uma força expressiva que ajuda o protagonista na compreensão da sua própria vida.
O escritor brasileiro, Guimarães Rosa e o escritor moçambicano, Mia Couto
procuram, a partir da narração performática, materializar no texto literário a tradição oral,
retomando em suas produções literárias a performance narrativa dos contadores de estórias de
ambas as culturas. O objetivo deste estudo é propor um diálogo entre os livros de contos:
Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, e Vozes anoitecidas, de Mia Couto na perspectiva de
seus narradores. Apesar da diferença espaço-temporal que separa essas duas obras, elas
mantêm entre si um intenso diálogo. Ambas são semelhantes no que se refere aos recursos
utilizados em sua construção, como por exemplo, a singularidade da linguagem, a prosa
poética e a tradição oral, fio condutor dessas duas narrativas. Evidenciaremos de que forma a
tradição oral está inserida na criação estética desses escritores. Para isso, serão apreciados os
contos “Luas de Mel”, de Guimarães Rosa e “Patanhoca, o cobreiro apaixonado”, de Mia
Couto. Destacamos a performance e as estratégias utilizadas pelos narradores dos respectivos
contos para inscrevem no texto o contador de estórias da tradição oral.