A visão daqueles que vivem à margem em termos social e cultural é reconhecidamente um dos aspectos mais representativos da obra de João Guimarães Rosa. Nesse esforço de dar voz aos “ex-cêntricos”, a criança e o sertanejo personificam um raciocínio totalmente distinto de uma assimilação cartesiana da realidade, raciocínio este tão caro à estética e ao pensamento rosianos. O presente texto tem por objetivo observar a forma como essas duas visões marginais convergem na figura de Miguilim, de Campo geral, ressaltando a importância que o ato de narrar adquire no processo de percepção e interação desse personagem com o mundo que o cerca.
O conto “Campo Geral” apresenta o sertão brasileiro sob a perspectiva de uma criança, destacando as relações humanas e familiares, as tradições e os costumes populares, a música, a culinária e a religiosidade. O presente trabalho visa discutir os aspectos populares e canônicos, que se encontram nesse texto de Guimarães Rosa, em relação à linguagem, à estrutura e à temática.
Este ensaio pretende observar como a literatura oral, tão discriminada por muitos críticos, pode figurar como um antídoto para o estado anestésico das sociedades modernas. Para tanto, partiremos de um breve resgate teórico que destaca os trabalhos de Benjamin, Ong, Barrento e Lima, por exemplo, e que nos conduz à novela “Uma estória de amor”, de Guimarães Rosa. Nesse texto, a oralidade é apresentada como uma força expressiva que ajuda o protagonista na compreensão da sua própria vida.