Esta dissertação apresenta o estudo de aspectos analisados em três contos de Guimarães Rosa protagonizados por crianças, são eles: Campo Geral (da Obra Manuelzão e Miguilim), As margens da alegria e A menina de lá (contidos em Primeiras Estórias). A investigação toma como ponto de partida a construção da personagem-criança na obra rosiana a partir de um amadurecimento incomum e precoce que pode gerar estranheza ou confusão pela inevitável associação ao fantástico e ao sobrenatural, razão para um exame neutro e imparcial. Inicialmente, estabelece-se a diferença entre ver e enxergar, o que favorece a análise mais detida da personagem alvo: Miguilim. Esta distinção possibilita a visão do amadurecimento do menino, ao longo da narrativa, o qual passa do simples observar o mundo para a compreensão dele. Nessa tarefa de amadurecimento tem função primordial o irmão Dito, que auxilia Miguilim em sua jornada. Estuda-se o comportamento, a origem etimológica dos nomes de batismo das personagens Miguilim e Dito, já que eles sugerem uma escolha não aleatória do autor. Duas outras personagens-crianças da ficção rosiana também.São analisadas: o menino de As margens da alegria e Nhinhinha de A Menina de lá, pois também são personagens do universo infantil que apresentam características extraordinárias, como sabedoria, maturidade precoce, poderes inexplicáveis para o mundo convencional. Chega-se, assim, às estratégias que favorecem a difusão do efeito de verossimilhança a partir de aparentes coincidências e até mesmo de incongruência que corroboram no processo de autonomia das personagens na narrativa. As análises foram feitas, principalmente, a partir da teoria de Mikhail Bakhtin, Gérard Genette, Paul Ricoeur, Beth Brait, Tzvetan Todorov e Norman Friedmann