A dissertação investiga os contos de Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa, em termos da subversão de algumas metáforas conceituais convencionalizadas - conhecimento como visão, estados como lugares, propósitos como destinos, mudanças como movimentos, e algumas outras, tais como descritas pelos cognitivistas George Lakoff, Mark Johnson e Mark Turner - e em termos do vínculo entre esta subversão e o conflito instaurado entre os modos de vida dos personagens.
Esta pesquisa apresenta análises de contos do livro Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa, do ponto de vista morfossintático. Buscando desvendar sua linguagem, as análises baseiam-se em elementos evidentemente escolhidos pelo autor para nortear a leitura de cada conto. São recursos morfossintáticos, revelados a cada passagem, que denotam a preocupação metalingüística do autor e marcam o caráter de invenção de seu texto. Para proceder às análises, partimos de conceitos oriundos da gramática gerativa, que apresenta o quadro teórico condizente com a idéia de gramática internalizada, importante no cotejo linguagem do autor/linguagem do leitor. Também foram descritas as categorias morfossintáticas que mais foram necessárias às análises, as quais fornecem um quadro do manejo lingüístico operado pelo autor em suas obras, especialmente neste livro de 1962.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada
Este trabalho concentra-se na análise de Primeiras estórias, propondo, para interpretação do conjunto, o estudo das articulações entre mito - nos sentidos de enredo, de narrativa cosmogônica ou de fundo mágico-religioso - e História no livro. Trata-se de ver, por dentro das particularidades dessas estórias, como os narradores olham para um mundo em trânsito. Desta perspectiva se constituiu um movimento de investigação: Começando pela leitura de narrativas aventurescas focadas em crianças, configura-se uma poética em que a visão de mundo dos personagens é partilhada pelo narrador, por via de experiências de descoberta do vasto mundo ou de encenações da existência. Viagens externas ou a territórios que não transpõem os muros do imaginário marcaram no passado e gravam no presente um sentimento profundo da vida, guardado na memória ou acompanhado em ato, nos momentos de revelação. Desta busca de recuperação de uma identidade, movimento do narrador, no âmbito privado (ainda que em espaço histórico onde se ergue um novo mundo), chega-se a um outro conjunto de contos em que uma espécie de anedotário político fala de identidade em sentido mais amplo. Nestes contos investiga-se o sentido da perspectiva do narrador ao flagrar momentos de trânsito entre sertão, norma, violência privada e cidade. No centro do trabalho encontram-se as análises de contos que se passam em espaços onde a precariedade tem lugar - sejam eles pequenos arraiais, sejam grandes propriedades
com resquícios patriarcais -, e, junto dela, uma consciência do mundo em que o homem não é dono de seu destino. São estórias que trazem, no enredo, na maneira de conceber o mundo ou em alusões do narrador, marcas do trágico, compondo uma visão do momento histórico que o livro situa em suas molduras. Por fim, chega-se à análise do conto central, tendo-se novamente em vista a questão da identidade e da representação, a fim ) de amarrar uma visão sobre Primeiras estórias, pautando-se a compreensão do conjunto pelo grau de penetração que o escritor tem na matéria contraditória com que lida, o que dá a medida excepcional de sua capacidade de criar formas.
Este trabalho faz um levantamento, no primeiro capitulo, das origens do livro primeiras estorias e a sua recepcao no ano do lancamento, 1962, e ate o presente, privilegiando elementos e procedimentos narrativos comuns aos contos reunidos no livro. O segundo capitulo analisa o narrador em a terceira margem do rio, quanto ao foco e modo narrativo, atraves do estudo verbal da narrativa, e as implicacoes da posicao do narrador no que se refere ao genero da estoria e quanto ao sentido do conto. O ultimo capitulo reune os capitulos primeiro e segundo e propoe uma unidade do livro primeiras estorias em torno de um narrador particular, abordando um narrador cujo ponto de vista e comum em todas as vinte e uma estorias.
Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade
Em Solve et Coagula - dissolvendo Guimarães Rosa e recompondo-o pela ciência e espiritualidade é investigada a importância da espiritualidade na formação do escritor Guimarães Rosa e na confecção de suas obras, rincipalmente Primeiras Estórias e Ave, Palavra. A partir de relatos de amigos e parentes, entrevistas, cartas e anotações pessoais, analisa-se como esse interesse pela espiritualidade - principalmente pela Cabala, Tarô e Astrologia - aparece nos seus textos, tanto na construção quanto em personagens, linguagem e estórias, em equilíbrio com um pensamento cientificista. Para melhor compreender a questão espiritual do escritor mineiro e o seu desenvolvimento na ficção, também é estudada a visão de "religiosidade" rosiana analisada por Vilém Flusser e como ela se relacionaria diretamente com a linguagem poética do escritor mineiro.
O presente trabalho divide-se em três capítulos, que constituem a seguinte estrutura: no primeiro capítulo, analisamos a figura da morte e suas características no contexto da obra de Guimarães Rosa, dentro de uma tipologia específica, determinando como essa figura surge através de imposição , ausência , memória e ritual . Com isso, pretendemos abranger todas as possibilidades que esse aspecto denota. No segundo capítulo, observamos a incidência do espelho como elemento de análise de nosso estudo, caracterizando como uma condição estilística pode se tornar uma chave de leitura, necessária à interpretação do livro Primeiras Estórias . A caracterização do espelho como elemento de análise possui uma fundamentação teórica que se descortina ao longo de outras obras literárias que têm por base o mesmo objeto. Ao estabelecer os pontos em que tais obras se aproximam das teorias da especularidade, pretendemos justificar seu uso sob nossa perspectiva
O presente estudo formula-se como uma tese, com duas linhas de sustentação. Uma delas procura fazer ver, em considerável mostra da construção literária de João Guimarães Rosa, destacado empenho em se produzirem efeitos de sentido da simultaneidade, mediante procedimentos lingüísticos e literários tendentemente singulares. A outra busca dar conta de possível implicação metafísica no referido processo criativo do autor. Serve-se, para tanto, de fundamentação filosófico-mística, compatível com sugestivas indicações oferecidas pelo corpus pesquisado. O estudo consta de três partes, além de uma nota introdutória e uma conclusão. A PARTE I divide-se em dois capítulos. Ocupam-se esses da questão da simultaneidade vinculada a estratégias semióticas, verificadas em segmentos textuais da estória rosiana. A PARTE II, cuja organização difere das duas outras, dá prosseguimento ao trabalho da anterior, mas operando com quatro textos integrais (três de Primeiras estórias e um de Tutaméia). A PARTE III, como a primeira, compõe-se de dois capítulos. Ocupa-se o primeiro com a demonstração pontual de significativas semelhanças entre Grande sertão: veredas e Primeiras estórias. Trata o segundo do envolvimento estético-metafísico de Guimarães Rosa com a questão da simultaneidade, ponto colocado como elemento conector das duas obras. Isso se faz numa perspectiva que reconhece certa relação de complementaridade antitética entre posturas ideológico-existenciais do Riobaldo velho, do Grande sertão: veredas, e do Menino, personagem de duas narrativas estrategicamente posicionadas uma, no inicio, e a outra, no fim do repertório de Primeiras estórias. Chega-se à conclusão de se ter exposto, com a requerida suficiência, o conteúdo das duas linhas de sustentação da tese. De um lado, entende-se ter-se embasado devidamente a afirmação relativa à relevância estética conferida à simultaneidade na construção literária de João Guimarães Rosa; de outro, admite-se ter-se confirmado como plausível a hipótese de haver, no referido procedimento do autor, certa implicação de ordem metafísica atinente à questão da simultaneidade.
Setor de Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras
Amparado em Antonio Candido e Eduardo Coutinho, a presente pesquisa tem por objetivo investigar o estatuto do pensamento lógico e do pensamento mítico na obra de 1962, Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Com efeito, em uma abordagem imanente das narrativas rosianas, e a partir do diálogo mais detido com estes dois comentadores e com outros pesquisadores mais recentes da fortuna crítica, construímos o que denominamos sistema composicional dos princípios antitéticos da obra. Esse sistema consiste em uma representação do que entendemos como o processo criativo do volume. Em verdade, esta matriz formal que articula dialeticamente os dois princípios do nosso sistema pode ser reconhecida em todas as narrativas do volume e em todos os níveis de análise. Deste modo, por meio do tensionamento entre o Mýthos e o Lógos, Primeiras estórias pode ser erigida a condição de poesia narrativa, ou prosoema, pois embaralha os gêneros da poesia e da prosa em estórias que atualizam o mítico e arcaízam o lógico, em um processo químico de criação. Assim, oralidade, primitivismo, coletividade e o pensamento metafísico-sobrenatural, próprios do princípio mítico, estão dialeticamente articulados com o individualismo, com o modernismo, o escrito e o pensamento físico-natural, pressupostos do princípio lógico. E a partir dessa dupla raiz composicional é possível reconhecer a unidade do volume, em seu barroquismo linguístico e na sua estrutura especular. Pois a narrativa medial de Primeiras estórias, O espelho, reflete esse sistema composicional dos princípios antitéticos linguisticamente e articula toda a obra simetricamente, à medida que sua unidade implica a duplicidade do Mýthos e Lógos enquanto palavra.
Estudo da sabedoria chinesa em Primeiras Estórias a partir de elementos de linguagem que, devidamente avaliados, constituem o ponto nevrálgico da trama e da cosmovisão da obra. Fazendo-se sentir por todos os seus poros -léxicos, sintáticos e poéticos - embora hegemônica, o livro não se restringe àquela sabedoria. Seguindo a tradição crítica, o autor indica, na Introdução, pontos distintivos e de contacto no profundo e constante diálogo com religiões como o cristianismo e o budismo, outras filosofias como o existencialismo, o platonismo e mesmo a sabedoria pré-socrática. Diferenças e semelhanças incidem decisivamente no estilo utilizado pelo escritor mineiro. o "foco narrativo", constituinte do olhar infantil, articula a fatura da prosa poética e da cosmovisão e, portanto é o elemento dinamizador e de descanso propagado pelo "amarelinho" - jeito carinhoso de Guimarães Rosa denominar Primeiras Estórias. As estórias escolhidas para exame procuram revelar a estruturação da obra e os principais temas narrativos: a constituição e construção do novo homem, o governo dos "homens verdadeiros", a transitoriedade da vida e a superação do medo, a graça e a predestinação, o encanto infantil. Finalizando, o texto procura amarrar pontos e aspectos revelados sem transformá-Ios em nós, porque as estórias roseanas indicam o eterno refazer da vida e não se estaria fazendo jus a elas concluir a dissertação de modo axiomático.