Os debates sobre a apropriação que o cinema faz de obras literárias não são recentes, tampouco podem ser considerados como um caso superado ou resolvido. A partir disso, o presente trabalho consiste na análise da transposição de alguns elementos da narrativa literária de cinco contos da obra Primeiras estórias (1962), de João Guimarães Rosa, para a narrativa fílmica Outras estórias (1999), dirigida por Pedro Bial, considerando-se, principalmente, a caracterização dos personagens; a estruturação, o aproveitamento e entrecruzamento dos enredos; além das presenças das vozes narrativas. Como resultado de tal análise, pretende-se demonstrar como a tensão dos diversos dramas humanos foi transposta para os elementos essencialmente cinematográficos, para os quais colaboram a narrativa pela imagem, a fotografia, os planos e o enquadramento, entre outros, bem como os apontamentos dos recursos que Bial utilizou para recriar em linguagem cinematográfica o universo rosiano.
O longa metragem Outras estórias, de Pedro Bial, é uma leitura- montagem de cinco dos contos de Primeiras estórias que o escritor mineiro publicou em 1962; todavia, não se trata de transposição de uma obra literária para o cinema, mas, antes, de uma concepção dela enquanto possibilidade cinematográfica. À maneira de Rosa, Bial pes- quisa um ?dialeto? cinematográfico, uma sintaxe que se corporifica num compósito que inclui cinema, teatro e literatura, onde ficam mobilizados a oralidade e a escrita, a imagem visual e a metáfora, os planos e a mon- tagem, os recortes e os movimentos, os sons, as imagens e os sentidos.
O trabalho estuda personagens e ação de quatro contos da coletânea Primeiras estórias de Guimarães Rosa, aproximando-os da adaptação dessas narrativas realizada por Pedro Bial no filme intitulado Outras estórias. O objetivo é comprovar a hipótese de que determinados protagonistas dessas composições, de um lado, constituem retomadas de arquétipos fixados no nosso imaginário cultural e, de outro, refletem as condições sociais do país. O elemento principal entre aqueles que Pedro Bial toma para estabelecer a relação entre os textos que compõem o filme, de modo a formarem uma narrativa unificada, é representado justamente pelas personagens. Entre os protagonistas/arquétipos a serem examinados estão o valentão, o rei sábio, a cinderela.
Este ensaio pretende analisar o livro Primeiras estórias (1962), de Guimarães Rosa, e sua transposição para o filme Outras estórias (1999), dirigido por Pedro Bial, com adaptação de Alcione Araújo. Tomaremos como foco central do trabalho a noção de comum. Buscaremos verificar como este conceito, tratado por pensadores contemporâneos, aparece nas obras analisadas. O ensaio almeja investigar aspectos da linguagem literária e fílmica e avaliar a relação das personagens com a vida comunitária. Podemos perceber, no livro e no filme, imagens relativas a outras formas de espacialidade e temporalidade, distantes dos modelos predominantes na modernidade ocidental. Ideias sobre compartilhamento, comunidade, comunicação e cooperação surgem da análise dos textos. Mas o trabalho também mostrará o conceito de comum como a dificuldade de se empreender experiências comunitárias, tentando abrir o leque de interpretações sobre a questão. O livro e o filme trazem as ideias do diálogo e do perdão como pontos importantes, sugerindo novas formas de vida social.
O artigo analisa a adaptação para o cinema do conto "Sorôco, sua mãe, sua filha", de João Guimarães Rosa (1962). São objeto do trabalho os filmes Cabaret Mineiro, de Carlos Alberto Prates (1980), e Outras Estórias, de Pedro Bial (1999). O trabalho aborda essas duas adaptações, explicitando e comparando as diferentes escolhas tomadas pelos dois diretores para transpor a mesma obra para o cinema. Também analisa o próprio conceito de adaptação, e como as intenções de cada diretor influenciaram no resultado final da transposição da obra literária para as telas do cinema.
Analisam os a narrativa fílmica de Pedro Bial Outras estórias que retoma cinco contos de Primeiras estórias, de Guimarães Rosa. O enfoque da análise são os motivos casamento e velório, que figurativizam os valores universais vida/morte, e o espaço do sertão. A partir desse recorte, propomos uma leitura que pretende demonstrar como o texto de Bial constrói a Cinderela do sertão mineiro.
As adaptações de nove contos de Primeiras estórias, publicadas pela primeira vez em 1962, para os filmes A terceira margem do rio (Nelson P. Santos, 1994) e Outras estórias (Pedro Bial, 1999) constituem o tema deste estudo. Comentam-se as opções narrativas assumidas pelos cineastas para vencer o desafio imposto pela intensa elaboração textual presente na escrita de Guimarães Rosa. Considerando, por princípio, que cada obra literária ou fílmica deve ser apreciada em sua condição de produção artístico-cultural, o exame das relações entre o livro e os filmes privilegia
algumas das implicações temáticas e estéticas resultantes dessa passagem.
Este artigo tem por objetivo discutir determinadas alterações empreendidas em cenas de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, no processo de adaptação dessa obra para o texto fílmico Outras estórias, de Pedro Bial. Para tanto, discute-se a natureza da mudança de suporte, na esteira dos estudos de base greimasiana, observando certas construções de sentido que se recriam nesse processo de transcodificação. Utiliza-se, desse modo, a noção de adaptação enquanto forma de tradução/transcodificação, isto é, uma interpretação que se realiza como enunciado segundo que deve manter certa equivalência em relação ao enunciado primeiro. O texto aponta também para as noções de recursividade e desdobramento, formas de uma tipologia textual que podem dar conta das alterações da expressão na passagem do texto verbal rosiano ao audiovisual de Pedro Bial. Por fim, pretende-se ainda apontar certos encadeamentos figurativos e temáticos que se organizam nos dois textos e que permitem a percepção da supressão do estado de aparente loucura de Liojorge no filme, o qual é enunciado no texto verbal, e, por sua vez, a reiteração do estado de coragem do ator, já presente no texto rosiano, em cenas do texto fílmico.
Este artigo é excerto de dissertação sobre a tradução intersemiótica de cinco narrativas do livro Primeiras Estórias de Guimarães Rosa para o filme Outras Estórias de Pedro Bial. O texto perpassa a transmutação do cenário e das personagens rosianas para a linguagem cinematográfica com suas especificidades e recursos, sobretudo, pelo contexto visual dialogando, por meio da imaginação e da imagem, com a obra do escritor mineiro que desde a década de 1960 é fonte para roteiros de teatro, cinema, documentários e minisséries de televisão.