O presente artigo, tem como objetivo olhar comparativamente os contos “Presepe” do livro Tutaméia, de Guimarães Rosa, publicado em 1967. E o “Noventa e três” de Mia Couto, publicado em 1994. Esse artigo também foi desenvolvido para reunir contos com estruturas semelhantes, onde ambos apresentam personagens antigos em situações diferentes, mas que mantêm um diálogo entre si em diversos aspectos. Como linha central de análise, destacamos os seguintes temas em nosso dialogo intertextual com o discurso da sociologia e da antropologia sobre a velhice: abandono, solidão, ênfase na experiência e herança ancestral. Por meio desse estudo, também temos a intenção de destacar a velhice de modo geral em ambos os contos, trazendo um breve relato sobre a velhice no Brasil em comparação com a velhice na África. E para isso, vou me valer dos teóricos Mendonça (2013) e dos textos dos dois autores. Palavras-chave: Mia couto; Guimarães Rosa; Velhice; Comparação.
Guimarães Rosa considera a literatura um ofício sagrado, cuja importância exige daqueles que se empenham nesta função muita seriedade e compromisso, assemelhando-se a um verdadeiro sacerdócio. Tutaméia (Terceiras Estórias), último livro publicado em vida pelo autor, em 1967, está envolto por uma atmosfera mítica, pois, para muitos críticos, nesta obra, Rosa sintetiza todo o seu legado poético. Tendo em vista que o mito revela “uma história sagrada”, este artigo objetiva apresentar que Tutaméia (Terceiras Estórias), como um todo, adentra as esferas do mítico, bem como há, de modo particular, nos contos “Curtamão” e “Presepe”, um retorno ao sagrado.
Neste artigo, comparo alguns textos de João Guimarães Rosa com filmes de Charles Chaplin e Pier Paolo Pasolini. O contraste está baseado nos temas do silêncio e da morte.
Este trabalho pretende, numa perspectiva dialógica, mostrar como as narrativas africanas
reverberam-se nas histórias brasileiras, propondo um diálogo criativo e dinâmico na literatura. No
percurso do estudo procuramos identificar nos contos traços expressivos deste diálogo, tais como a
presença da ancestralidade, a marca da oralidade – mitos, provérbios, lendas, fábulas – a criação de
neologismos, enfim, uma rica representação da realidade criada pelos escritores. Para ilustrar esta
confluência, escolhemos em especial o conto “Presepe” do livro Tutaméia, de João Guimarães Rosa e
“Noventa e três” de Estórias Abensonhadas do moçambicano Mia Couto. Vale ressaltar que a
pretensão deste trabalho, além de estabelecer aproximações no discurso oral das narrativas dos dois
autores, é também de contribuir para os estudos da produção literária brasileira em diálogo com as
literaturas africanas de língua portuguesa.
O ensaio analisa e interpreta o conto “Presepe”, do livro Tutaméia, de João Guimarães Rosa, examinando o cerimonial empreendido por Tio Bola, oitenta anos, numa noite de Natal. Como apoio crítico-teórico conta-se com o texto “Os atos obsessivos e as práticas religiosas”, na qual Sigmund Freud investiga a situação em que o indivíduo devoto desenvolve o cerimonial religioso sem indagar o seu significado ou nem mesmo conhecer o sentido simbólico dos ritos. Da mesma forma como os heróis antigos empreendem suas aventuras, Tio Bola põe-se à luta, no caso, contra sua própria solidão, ao criar a representação de um presépio numa estrebaria enquanto “todos” foram à vila para a missa do galo. Nesse empenho, o herói rosiano deixa entrever a regressão aos estágios infantis, ao mesmo tempo em que, como ancião, reatualiza o saber ancestral do inconsciente coletivo. A fragmentação da ordem na aparente totalidade que a família representa e a subversão de alguns rituais do cerimonial religioso são fatos que se somam no itinerário desse herói para anunciar que a vida ainda se agita no fragmento, que é sempre matéria vertente, abrindo espaço para o sonho e para a criação.
O texto que segue tem como objetivo propor uma leitura do conto “Presepe”, de Guimarães Rosa, mostrando o caminho trilhado pelo personagem Tio Bola para reviver o momento do nascimento do menino Jesus, rompendo os limites impostos pela realidade e recuperando o instante sagrado, com todas as transformações que essa decisão acarreta ao personagem. O conto narra um instante mágico de elevação do sujeito, uma verdadeira torrente de imaginação, poesia e fé. Toda essa atmosfera está repleta de símbolos, que representam o coletivo e o individual, e compõem a trama poética do conto.