Este estudo estabelece uma relação de equivalência entre as expressões irrealidade, faz-de-conta e temulência, contidas no texto de João Guimarães Rosa, com os conceitos de embriaguez dionisíaca e força plástica do poeta e filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche.
Este trabalho tem por objetivo fazer uma leitura de dois contos (Lá nas campinas e Curtamão) e dois prefácios (Aletria e Hemenêutica e Nós, os temulentos), textos de Tutaméia, de Guimarães Rosa. O artigo analisa duas epígrafes de Schopenhauer, que insistem na releitura. Ambas estão em Tutaméia e têm sintonia com a noção de música tanto nesse pensador quanto na obra de Nietzsche. O pensamento nietzschiano, no entanto, apostando na música como arte do irrepresentável, através de aforismas e paradoxos, escapando ao conceitual e à metafísica de Shopenhauer, parece ser mais apropriado para a leitura de Tutaméia, obra construída numa escrita nômade, dionisíaca, numa festa em que há uma predominância do significante sobre o significado.
Objetiva-se a análise do conto "Sorôco, sua mãe, sua filha", de João Guimarães Rosa. Os elementos da estrutura narrativa constituirão ponto de partida para o alcance do canto dionisíaco presente ao final da narrativa. Os vínculos possíveis quanto ao tratamento dado ao trágico tanto na obra de Guimarães Rosa quanto na de Friedrich Nietzsche serão ressaltados.
A tese analisa a relação entre arte e pensamento, atuante nas culturas arcaicas, e problematizada pela ruptura da filosofia com o legado mítico-literário, desde o momento grego que instaurou a epistemologia ocidental. Essa relação insere os dois autores destacados — Friedrich Nietzsche e João Guimarães Rosa — no contexto dialógico entre esses dois saberes que os ultrapassa e os transforma enquanto movimento repetitivo e insistente na trajetória do pensamento. A leitura de Nietzsche segue os tópicos apropriados por Gilles Deleuze para considerá-los em contraponto às proposições de Guimarães Rosa, correspondentes às perguntas que resultaram nos conceitos nietzschiano-deleuzianos. A tese observa o interesse desses autores em explorar a linguagem como ambiente de experimentação de seus processos escriturais inovadores. Lança-se o foco crítico sobre o ponto de contato da obra de Nietzsche com a chamada Filosofia do Trágico, momento em que os filósofos alemães modernos debruçaram-se sobre a tragédia, por haverem reconhecido nela uma visão de mundo, um documento de filosofia primeira, na qual estão reveladas questões relevantes sobre a existência, o ser. É nesse ambiente que o pensador se forma filólogo e se torna filósofo, construindo, pelo viés do estilo de escrita, a peculiaridade de seu sistema de pensamento. A potência desse pensamento trágico vem da valorização radical da literatura, o lugar e a verdade do poeta, a arte como máxima afirmação. De outro lado, definindo-se como amante da linguagem, do literário, João Guimarães Rosa passa também a integrar a antiga relação pensamento e arte. Sua escrita articula modos de pensar arcaicos e modernos, resíduos de diferentes tradições orais e experimentos de vanguarda. São observados pontos em que essa escrita constrói novas formulações para os problemas de que os filósofos sempre se ocuparam. A estratégia adotada se dedica a captar momentos nos quais o autor enfrenta, através dos instrumentos especulativos da arte e das práticas rurais cotidianas, questões caras ao que ficou conhecido como filosofia.